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Os Amigos de Caminhada!

Mas um milhão de pessoas morreram e, por enquanto, nossa dor deve ser reservada a elas.


A eficácia portentosa e perturbadora.

Javier Sampedro

Steven Pinker costumava dizer que o mais pernicioso dos psicopatas pode assassinar 10 ou 20 pessoas, mas que para matar um milhão a psicopatia não é suficiente: também é preciso ideologia. Ele se referia a Hitler e Stalin, dois psicopatas assassinos não diagnosticados. 

Um milhão de mortos. Isso se diz rapidamente. Há poucos meses, essas pessoas viviam suas vidas angustiadas pela artrite, a hipoteca ou o desemprego, talvez afligidas por uma biografia sem muito sentido, talvez contentes por seus privilégios, eufóricas ou desesperadas. O que poucos esperavam é que um vírus iria matá-las, um mero punhado de átomos sem religião ou ideologia, um quase nada que só existe pelo mero fato de que pode existir, de que a física e a biologia o tornam possível, e que, apesar de tudo, matou um milhão de pessoas com uma eficácia portentosa e perturbadora. Parece incrível.

E exatamente isso, não acreditar, foi o que quase todo mundo fez em dezembro, e em janeiro, e em fevereiro e até bem entrado março. Digo “quase todo mundo” porque os virologistas, epidemiologistas e outros cientistas especializados vinham nos alertando há décadas que isso, ou algo muito parecido com isso, iria acontecer mais cedo ou mais tarde. É verdade que ninguém podia saber a data exata ou o vírus específico que causaria a próxima pandemia. O principal suspeito, na verdade, não era um coronavírus, mas um vírus de gripe, e havia boas razões para isso. A chamada gripe espanhola de 1918 matou 50 milhões de pessoas –mais do que a Grande Guerra que terminou naquele mesmo ano.

Poucos políticos que estavam no cargo em janeiro de 2020 deviam se lembrar daquele acontecimento de 18 anos atrás, não falemos da gripe espanhola de 1918, porque o fato é que os Governos ocidentais se fizeram de desentendidos diante dos alertas que emanavam de Wuhan, China, silenciados inicialmente por Pequim, mas logo apoiados pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Quando a Itália já estava afetada a não mais poder, em Bruxelas continuavam discutindo sobre o 5G e a ética das redes sociais. Os Governos começaram minimizando os riscos para o Ocidente, jogaram a experiência chinesa na gaveta de assuntos irrelevantes e a trancaram. Pouco depois se revelou o grande erro que isso significava. Um erro tão grande que pode ser medido em vidas humanas.

É possível que os políticos aprendam, alguma vez, que seu trabalho consiste em se colocar a serviço dos cidadãos. Até agora só aprenderam a dizer isso, não a fazer. Tivemos que suportar nesses meses alguns espetáculos vergonhosos, impertinentes e cansativos oferecidos por nossos governantes.

Também dá pena o nacionalismo em torno das vacinas, segundo o qual cada pedaço do mundo luta por suas doses com orelheiras tão espessas que os impedem de ver até mesmo seus vizinhos mais próximos. 

Dão pena os líderes que se gabam do poderio de sua saúde pública, enquanto cortam seus recursos e a jugulam. Mas um milhão de pessoas morreram e, por enquanto, nossa dor deve ser reservada a elas. Que massacre. Que horror.

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https://brasil.elpais.com/ciencia/2020-09-27/um-presente-envenenado-da-mae-natureza.html

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