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Os Amigos de Caminhada!

3. E' uma advertencia para aqueles que ainda nao compreenderam... ( parte 3)


Gabriel

Orcus passou lentamente a mão espalmada sobre meus olhos. Pensei que ia ter uma
vertigem. Cintilações de grande intensidade invadiam-me as pupilas dilatadas. Parecia-me que um sol de luz branca penetrava-me a mente e que eu, ofuscado, iria precipitar-me das alturas.

Súbito, em pleno abismo, estarrecido, divisei formas diáfanas, puras, cristalinas,
que se moviam sobre os rochedos e os penhascos. Formas angélicas movimentavam-se naquelas vastidões. Figuras de pureza lirial transportavam-se através do espaço.
Não podia eu ainda percebê-las em toda a sua nitidez mas sabia que eram formas
semelhantes às formas humanas, porém transparentes e feitas de luz.

À nossa frente numa distância indescritível para o pensamento humano, contemplei
uma criatura de grandeza excepcional e de uma perfeição assombrosa. Tão belo que
produzia na minha alma verdadeira vertigem. Acreditei enlouquecer. Pousado no penhasco mais elevado e pontiagudo, com longas asas descendo-lhe sobre as espáduas cintilantes, um Anjo de Sublime e Divina beleza dominava o abismo.

— Aquele é Gabriel, que assiste diante de Deus, — declarou Orcus com acento
carinhoso e profundo.

Senti que o meu instrutor, ao dizer essas palavras, falara como quem expressa um
sentimento que eu desconhecia. Eram respeito e amor ao mesmo tempo e também era uma revelação que me fazia. Levantei o olhar para o Anjo e verifiquei que de seu coração poderosas forças jorravam sobre o abismo e, pouco a pouco, milhares de cintilações como uma chuva de estrelas iluminavam frouxamente as sombras. No fundo formas estranhas tocadas pela luz principiavam a mover-se. Gemidos e soluços elevaram-se, então das trevas e contemplei, horrorizado, hordas inteiras de milhões de criaturas que agarradas ao "solo" ou ocultas nas reentrâncias arrastavam-se como animais naquelas vastidões. Lembravam répteis, ou lagartas que não se animavam a ver a luz.

— Aquilo que você vê, meu filho, exclamou Orcus, são uma infinidade de seres que
pela permanência no mal conquistaram a infelicidade de vagar nas trevas do seio da Terra. Agarram-se agora desesperados à Mãe Terra como crianças cegas que desejassem sugar os seus seios fortes e ubertosos. Na realidade alimentam-se agora do magnetismo terrestre e vagam inconscientes, paralisadas no interior de si mesmos como "lesmas humanas" incapazes de gravitar para Deus.

Meus olhos encheram-se de lágrimas. Não sei dizer por que, estranhos soluços
vieram-me à garganta e uma espécie de estranha compaixão assaltou-me a alma
alastrando-se por todo o meu organismo espiritual. Gabriel, sobre o abismo, parecia
amoroso pássaro de dimensões indescritíveis alimentando o local como sol que, do
alto do firmamento, alimenta a Terra.

Sob a Luz do Sol Espiritual

Era claro que não poderíamos nos aproximar do Anjo. A luz intensa que explodia
de sua alma ofuscava os nossos olhos.

— Estamos a uma distância incalculável de Gabriel! — esclareceu Orcus, — e
mesmo que quiséssemos ir até lá não poderíamos. Lembra-se da "parábola de Lázaro"
no Evangelho? A nossa situação é quase a mesma.

Fiquei silencioso. Como somos insignificantes perante a grandeza da Vida! Da
miséria daquelas criaturas rojadas no solo, de rastos, até a Perfeição daquele Anjo
pairando sobre o Abismo, havia uma distância de milhões de "anos-evolução". Gabriel
era a Luz e aqueles infelizes representavam as trevas mais intensas. Nós, porém, não
éramos nem luz nem sombras. Evidentemente, eu pensava tudo isso de mim mesmo, porque Orcus era também, em face da minha indigência espiritual, um Gigante iluminado. O Espírito, por certo acompanhava-me o pensamento porque, carinhosamente, me abraçou e disse:

— Meu filho, diante da Grandeza de Deus, todos são infinitamente pequenos. No
entanto, todos nós poderemos marchar ao encontro da Luz, o que já é uma bênção divina, não acha?

Concordei com ele.

Sem mais palavra, levando-me pela mão, Orcus iniciou a descida pelos despenhadeiros
de declives.

— O vôo nessas zonas mais baixas não se torna impossível. mas além de perdermos as melhores oportunidades de aprendizado, levantaríamos um clamor inútil, pois que essas criaturas que vivem nas trevas acreditariam que somos enviados celestes para salvá-las - explicou Orcus. Agora iremos `a pé. Infelizmente, pouco poderíamos fazer em favor delas. Permanecem na mais "rígida inconsciência".

Orcus calou-se, e foi descendo.

Os caminhos eram sinuosos e a terra escura, de um marrom fechado e escorregadia.
Com imenso cuidado fomos vencendo as imensas distâncias que nos separavam das massas espirituais inferiores de "forma humana" que jaziam nas trevas. À proporção que descíamos, notei que paredões enormes subiam o abismo. Pareciam os "cânions" de que nos falam os viajores que passam pelo México. Tentei olhar para cima e tão grande era a altura que meus olhos, de novo, sentiram vertigem.  Os paredões à prumo projetavam-se como lanças para o alto. Parecíamos duas formigas caminhando por entre montanhas.

De repente, Orcus estacou. À nossa frente, numa espécie de furna, um verdadeiro
gigante completamente nu obstruia-nos o caminho. Tamanho descomunal, espáduas
nuas, corpo de uma cor semelhante à prata, cabelos encaracolados. Velho, de uma
velhice moça, porém, que parecia não ter idade. Isto é, tinha-se a impressão que aquela
criatura era milenar e que no entanto "parara no tempo". Parecia um deus antigo.

— Quem sois? — perguntou-nos ele.

— Somos humildes viajores em busca de consolo ao nosso sofrimento.

— Não sabeis que estais nos infernos e que aqui não há consolo nem esperança?
Aqueles que entram não podem mais sair porque se até aqui vieram é por terem a alma
endurecida no mal.

— Compreendendo, disse Orcus, mas para Deus nada é impossível e todo pecador
arrependido encontrará a oportunidade de salvar-se.

— Não, não! não há oportunidade para os maus!

Tão forte foi o berro do gigante que a sua voz ecoou por todo o abismo e ao mesmo
tempo uma onda esfuziante de gritos de desespero levantou-se por toda a parte.
Desespero e dor. Aquelas formas agarradas ao "solo" gemeram e gritaram
assombrosamente. Um verdadeiro turbilhão se fez em mim. Pensei que ia perder os
sentidos. Mas Orcus delicadamente colocou a mão sobre meus ombros e restabeleci.

— Voltem, voltem! Não ouvem a minha voz? — estertorou o gigante. Daqui ninguém
sairá, nem voltará! Para trás! Para trás!

Senti um grande medo e vi-me pequenino e frágil em face daqueles dois gigantes: Orcus
e Palaton. Este era o nome do Guardador do primeiro portal no primeiro declive por onde entráramos. Coisa estranha, sem saber explicar como, percebi que uma luz de muito alto atingia Palaton. Luz suave, de luar. Olhei e vi que um raio safirino descia como um fio pela ponta do penhasco onde se postara Gabriel e atingira o Gigante. Este encolheu-se todo, agarrou-se às rochas escondendo o rosto e disse, como uma criança amuada:

— Podem passar, podem passar, protegidos da Luz.

Nós passamos, silenciosos. Eu tremia. Orcus, sereno, porém rígido e enérgico. Parecia
uma estátua. Não ousei olhá-lo porque ele mesmo me assustava naquelas solidões.

Logo chegamos a um estreitamento do caminho na rocha que mal dava para passar
um homem. As pedras eram quase negras, úmidas e escorregadias. Um limo pegajoso descia por elas. Sentíamos em nossas pernas e em nossa túnica a umidade viscosa. O caminho estreito terminava numa série infinita e incontável de pequenos degraus.

— Desçam! Desçam o Abismo! — exclamou atrás de nós Palaton. Lá no fundo estão
aqueles que não têm mais esperança!

Fiquei transido de pavor. Orcus, porém, caminhava sempre como quem sabia o que queria e o que buscava.

Continua...

Do livro: O Abismo - Andre' Luis - atrave's de R.A. Ranieri

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