I-Em-Hotep : Aquele que vem em Paz
Apresentação
I-Em-Hotep, cujo nome significa "Aquele que vem em paz", viveu no Egito, uns três mil anos antes de Cristo.
Ele ocupou, durante o reino de Zoser, o mais alto cargo do país, cargo que posteriormente recebeu o nome de "Vizir". Arquiteto do rei, astrônomo e astrólogo, autor de sábios escritos e provérbios, poeta de renome, I-Em-Hotep era, também, o sumo sacerdote do Egito e o Hierofante do sistema de ensinamento religioso e esotérico do seu tempo. Foi ele quem desenhou o plano da primeira pirâmide egípcia - a pirâmide escalada de Sak-Ka-Ra. Foi ele o primeiro na história do mundo quem introduziu o uso da pedra talhada na construção, o que deu início à construção sólida. Sua sabedoria e conhecimentos impressionaram tanto os seus contemporâneos que, por muito tempo, tornaram-se tradição nacional. Seus provérbios eram repetidos e cantados em todo o país.
Foi, no entanto, como médico e fundador de templos de cura que I-Em-Hotep deixou traços mais profundos na areia do tempo. Suas curas tornaram-se proverbiais, granjeando-lhe gratidão e profunda reverência do povo. Esses sentimentos permaneceram após sua morte e fizeram com que o Egito o elevasse ao nível de semidivino.
O renome de I-Em-Hotep ganhou a Grécia. Chamado pelos gregos Imouthes, foi, posteriormente, identificado como Asclépios, deus grego da medicina. Vários textos mencionam Asclépios como "Filho de Ptah", título dado, no Egito, a I-Em-Hotep. Essa identificação, com o tempo, tornou-se total: o nome de I-Em-Hotep imergiu completamente no de Asclépios.
Durante os séculos que seguiram à morte de I-Em-Hotep, numerosos templos dedicados a ele, com suas escolas médicas, surgiram no Egito, atraindo muitos sofredores. O povo atribuía as curas milagrosas que aí aconteciam à intervenção de I-Em-Hotep, e foi isso, provavelmente, o que conduziu à sua completa deificação como deus da medicina, com todos os atributos divinos. Na história do Egito, tal glorificação de um ser humano, que nunca foi rei, é um caso excepcional.
A reverência do povo para I-Em-Hotep continuou a persistir quando o país decaiu e tornou-se vassalo da Grécia e, depois, de Roma. Ela prosseguia enquanto as outras divindades iam desaparecendo e permanecen do por mais de três mil anos, até, pelo menos, o quarto século da nossa era. Os "graffiti", deixados em prova de gratidão, por ricos gregos e romanos que iam procurar a cura nos templos de I-Em-Hotep, o atestam.
O ímpeto inicial, dado por I-Em-Hotep à ciência médica no Egito, era tão poderoso, que seus templos de cura, com suas escolas médicas adjacentes, tornaram-se famosos durante milênios.
Homero, em sua "Odisséia" (IV 227), menciona que os médicos do Egito são mais adiantados do que em qualquer outra parte do mundo. Herodotus nos diz (Her. II 84 e M. I. 128) que os médicos egípcios eram chamados para atender reis e outras pessoas importantes em países longínquos.
A arte médica no Egito era considerada sacra e ligada ao sacerdócio. O sistema da medicina sacra propa gou-se na Grécia, onde os "Asclepiades" - membros, ao mesmo tempo, de escolas médicas e de fraterni dades religiosas - guardaram, por muito tempo, o monopólio da arte médica. Hipócrates, cujo juramento está ainda em uso na profissão médica, era um “Asclepiade” da fraternidade de Coso. Só depois do século quinto antes de Cristo, a medicina passou a ser profana e aberta a todos. Todavia, por muito tempo ainda, continuaram a existir na Grécia os santuários - Asclepíeda - com seus sacerdotes-médicos, dirigindo verdadeiras clínicas. O culto de Asclépios passou a Roma no século terceiro antes de Cristo, depois de uma epidemia de peste.
Embora hoje em dia o nome de I-Em-Hotep seja quase completamente desconhecido, temos que admitir que muitos séculos antes de reconhecimento, pelos gregos, de Asclépios - cujo culto não parece ser muito mais antigo do que o tempo de Homero (cerca de 850 antes de Cristo) - milênios antes de Hipócrates (460 antes de Cristo) - viveu no Egito um ser humano, um médico tão célebre por suas curas que foi divinizado pela posteridade. A razão deste nosso esquecimento está, sem dúvida, no fato de que, até bem pouco, nada sabíamos sobre o Egito antigo. Sua civilização começou a nos ser revelada apenas desde Champolion.
O tempo e o vandalismo humano destruíram os templos onde os doentes iam buscar a saúde. Entretanto, conforta-nos o fato de que os milênios conservaram-nos algumas provas materiais e visíveis do imortal médico egípcio.
A contemplação de sua obra, tão variada em suas manifestações, tão notável no que realizou, tão duradoura em seus efeitos e tão excepcional em sua glorificação e apoteose final, provoca um tributo de profunda admiração.
("Ensinamentos de I-Em-Hotep")
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