“O futuro é agora, pode não haver amanhã”.
Lutar pelo futuro pós-vírus Eliane Brum Nós, os que hoje estamos vivos, nunca enfrentamos uma ameaça como o novo coronavírus. Se tantos repetem que o mundo nunca mais será o mesmo, e não será, qual é então o mundo que queremos? Lutar pela vida ameaçada pelo vírus é o imperativo da emergência. É preciso, porém, fazer algo ainda mais difícil: lutar pelo futuro pós-vírus. O rompimento da normalidade para poucos, da anormalidade para a maioria, que o vírus provocou, pode ser a oportunidade para desenhar uma sociedade baseada em outros princípios, capaz de barrar a catástrofe climática e promover justiça racial e entre espécies. O pior que pode nos acontecer depois da pandemia será justamente voltar à anormalidade que nos esmaga. Aquilo que muitos chamam de novo normal ―e nós entendemos que é um “novo anormal”. Até baluartes da imprensa liberal, como The Economist e Financial Times, ambos nascidos no berço do capitalismo, anunciaram no início da pandemia que seria preciso dar um passo atrás