Percebi que não renunciava, mas que fugia.
Mestre Lanto – A história do Homem, a Sabedoria Divina
30 de novembro de 2014
A VIDA DE MESTRE LANTO*
Eu nunca quis as honrarias do mundo dos homens, porque sempre soube que elas seriam tão passageiras como as nuvens.
Eu nunca quis os amores e as paixões, que, além de violentar o espirito, também violentam a alma e despertam desejos. Eu não quis porque sabia que amar, para mim, teria de ser algo infinitamente mais profundo do que apenas conhecer a paixão do corpo, os instintos que cada um pode perceber, pois até os animais copulam em busca do prazer do sexo.
Eu quis o amor… O verdadeiro amor.
E eu sei que nem sempre esse amor é fácil de ser encontrado e partilhado.
E em meio a profundos desencantos, segui por um caminho que não sabia por onde me levava.
Sequer eu saberia dizer a vocês o que fiz. E à medida que caminhei, os meus sapatos se romperam: e quando me vi descalço, me apercebi do tempo que tinha levado nessa estrada sem destino. E sem olhar a minha aparência, sei que os meus cabelos cresceram, que a barba apareceu no meu rosto, que havia pó de baixo das minhas unha, e que estava renunciando, Tanto andei, que não tinha mais consciência dos meus passos. Há muito havia passado a sede, a dor em minhas pernas, o cansaço nos meus braços.
Há muito havia passado também as lembranças de minha casa, a lembrança do meu, meu, meu… O que era meu?
Eu não tinha nada. Eu renunciei sem saber a que, por que, se nada tinha, a que renunciei?
E quando no meu caminho vi muitos outros como eu, homens, que não tinham amado, que não tinham criado família, que não tinham seguido os desafios do mundo da carne, eu me perguntava:
A que eu renunciei?
A que eles estão renunciando?
Quem são eles e quem sou eu?
Muito me perguntei. E muitas vezes, quando a minha língua estava seca e nem uma gota de água eu sabia onde encontrar, eu me perguntei: a que eu renuncio?
A quem eu deixo de falar, se a minha mente é mais feroz do que um abutre?
A que verdadeiramente eu estou renunciando?
Eu era muito jovem. Eu tinha um corpo muito saudável.
‘- Você é o seu Eu, com este sentimento, pensando, profundamente, na renúncia – uma renúncia que eu não escolhi, mas que veio andando comigo, caminhando comigo – como eu transcorria. Aos mesmos passos que eu andava, eu renunciava, sem saber o que fazia.
E percebi que não renunciava, mas que fugia.
E percebi que, se calado eu estava, era porque não tinha com quem conversar.
E então, comecei a fazer o caminho de volta. O caminho de vocês. O caminho de cada um de vocês,
Eu fui voltando a ser homem. Fui voltando a ter desejos. Fui voltando a ter desejos. Fui voltando a ter sonhos e não apenas aflições. Fui voltando a ter sorrisos e não apenas lágrimas.
Eu percebi que a vida não deve ser renunciada e nem os prazeres esquecidos, porque eles voltam, com uma voracidade tão grande, que podem me consumir ao invés de guardá – los em meu bolso, puído e esfarrapado.
E, num dia de muito sol, senti o quanto eu estava equivocado, dentro das minhas sombras, do meu orgulho, da minha pretensão e do meu medo. E, nesse dia, a consciência da Chama Dourada caiu sobre mim, e na minha frente apareceu um Mestre.
Ele era muito menor do que eu. Fisicamente, era apenas um homem pequeno. Mas a sua Alma reluzia como reluzem as grandes almas.
E a isso o meu coração palpitou. E como se fosse um gongo, uma campainha vibrou dentro de mim.
E ele me disse:
‘ – Quer ser Deus, meu filho?’.
E eu me espantei muito com aquela pergunta. E eu respondi:
‘- Sim!’.
Eu nunca havia pensado em ser Deus, mas disse sim.
Naquele momento, que pareceu horas, eu pensei: ‘Deus não sofre, Deus não tem que ganhar a vida, Deus não tem que ter dinheiro, Deus não tem que ter família, Deus não tem mulher, Deus não tem filhos… Eu quero ser Deus!’.
Ele olhou para mim, sorriu e disse:
‘- Seja apenas homem… Apenas homem!’.
E com essas palavras, da mesma forma que ele do nada surgiu, ao nada voltou.
Eu não podia me apresentar imundo, do jeito que estava em nenhuma cidade, porque assustaria não apenas as mulheres que eu estava desejando no meu intimo, mas também as crianças e os cachorros.
Quem iria ficar perto de um indigente imundo como eu estava?
Eu me banhei num rio, E as águas antes claras – o rio era pequeno – ficaram imundas com a minha presença.
E ali, mais uma vez abençoado pela Chama Dourada, este mesmo mestre apareceu, flutuando sobre as águas, e ele me disse:
‘- Você não quer ter dificuldades?’.
E eu rapidamente disse:
‘- Não, eu não quero dificuldades!’.
E ele me disse:
‘- Então, acaso, meu filho, recusas a vida?’.
Eu não compreendi. Mas tão aturdido estaca, lavando – me, livrando – me dos piolhos, tirando de mim mesmo uma aparência que eu não tinha, que não o vi desaparecer como da primeira vez,
E assim, limpo, eu continuei caminhando.
Como não podia cortar os meus cabelos eu os prendi nas costas. E andei com o desejo de não mais ferir os pés.
Andei, esperando que alguém de boa vontade me desse uma roupa, uma túnica, para que eu pudesse novamente apresentar – me na sociedade.
E numa noite, quando eu não tinha o que comer, de novo ele veio, e das suas mão surgiram biscoitos, os mais deliciosos, os mais deliciosos que eu já havia comido.
E ele disse:
‘- Lembras da tua mãe?’.
E eu lembrei da minha mãe. Lembrei da humanidade da minha mãe, Lembrei dos erros da minha mãe. Mas isso fazia tanto tempo, que lembrei também dos acertos. Eu lembrei do aroma da comida dela, eu lembrei do carinho. Eu lembrei que ela me deu o corpo, que ela me emprestou a chance de viver.
E eu disse:
‘- Sim! Perdão, mestre. Perdão, porque eu quis fugir, por ser incapaz de amar.
Perdão, porque eu quis transformar o mundo, ao invés de me transformar.
Perdão, porque eu quis ser mais o outro… um outro que eu criei para mim, do que eu mesmo’.
E ele me disse:
‘- Percebes que traíste a ti mesmo?’.
E ai as lágrimas vieram aos meus olhos, e eu não pude mais conter. E, mais uma vez, pedi perdão… Perdão por fugir, perdão por minha falta de coragem, pela minha falta de Fé… Perdão por ter sido tão pouco, e não ter desejado, ter aceito ser homem!
E, num gesto de luz, ele me tocou e eu me vi vestido com as mais velas vestes. Uma túnica dourada, enfeitada de vermelho.
Eu parecia um rei, Eu me sentia um rei.
E dos meus cabelos lavados, e ainda empoeirados da estrada, ele fez uma trança. E me disse:
‘- Você é o seu único poder!’
‘- Você é o seu único amigo!’
‘- Você é a sua única força!’
‘- Você é Deus!’
E, quando ele tocou meu coração, eu me senti como o próprio Deus.
Aquele no meu caminho era a expansão do próprio mestre Buda. E ele disse que, quando eu estivesse velho, eu seria também um Mestre. Mas que, antes, eu precisava ser Homem.
E contando a minha história, eu digo a vocês, que foi muito, mas muito difícil, ser homem, aceitar a minha humanidade, aceitar os meus desafios, aceitar as minhas m[as qualidades para transforma – las. Tudo isso foi muito, muita mais difícil do que me tornar um Mestre.
Hoje eu sou Lanto, mas eu já fui homem, eu já fui sombra. E venho, como meu nobre amigo disse, incentivando vocês a plantar a suas maçãs.
Sugiro, meus filhos: vivam como nobres… Nobres almas, nobres destinos, nobres esperanças, para um mundo de realizações.
Aceitem ser homens, para se tornarem mestres!
Esta é a minha mensagem.
Coragem, aventura, amor, expansão da luz e dignidade!’.
Do Livro: Os Sete Mestres - Maria Silvia Orlovas
*Mestre Lanto é o Choran do Segundo Raio - Amarelo - o Raio da Sabedoria.
Deve-se invocá- lo em momentos de depressão, culpa, raiva, mágoa, medo, todo e qualquer sentimento que tire a capacidade de enxergar com clareza a sua verdadeira Missão Cósmica.
Este Raio propicia a clareza de pensamentos e bons sentimentos por nós mesmos, aumentando assim, a auto-estima, reconhecendo no outro a Centelha Divina.
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