Despedaçai a férrea jaula que o passado para vós construiu.
De além do tempo e do espaço chega minha voz. É uma voz universal que fala ao mundo inteiro e
verdadeira permanece através dos tempos. A verdade não pode sofrer mudanças se olhada por esta ou aquela nação, se observada por uma raça ou outra, porque a alma humana é sempre a mesma em toda parte, se examinada em sua profundeza.
Venho a vós, acima de tudo, para iluminar e confortar, pois vos achais imersos numa vaga de dor. Crise ( a denominais e a imaginais crise econômica). Eu, porém, vos digo que se trata de uma
crise universal, crise de todos os vossos valores morais, de todas as vossas grandezas. É o desmoronar-se de todo um mundo milenar. Digo-vos que a crise se encontra, sobretudo, em vossas almas: crise de fé, de orientação, de esperanças. É o vertiginoso momento de grandes mutações.
Trago-vos esperança, orientação, paz. A cada um falo hoje a palavra da verdade e do amor, palavra
que não mais conheceis. Quero reconduzir-vos às origens milenares da fé com o intelecto novo, nascido de vossa ciência. No dia da Ressurreição, repito-vos a palavra da ressurreição, a fim de que possais compreender a dor e ultrapasseis as estreitas fronteiras de vossa vida. Comovido, falo a cada um no sagrado silêncio de sua consciência.
Ó, tu que lês, afasta-te, por um momento, dos inúteis ruídos do mundo e escuta! Minha voz não te
atingirá através dos sentidos, mas através desta leitura senti-la-ás aflorar dentro de ti na linguagem de tua personalidade. Minha voz não chega, como todas as coisas, do exterior, contudo, surgirá em ti, por caminhos desconhecidos, como coisa tua, da divina profundeza que em ti existe e na qual também estou.
O universo é infinito e de longe venho, atraído pela tua dor. Nada me atrai tanto como a dor, porque
somente nela o homem é grande, e se purifica e redime, dirigindo-se para destinos mais elevados. É triste serdes assim golpeados, mas somente sofrendo, podeis compreender a realidade da vida. Exulta, porque este é o esforço da tua ressurreição!
A quem sofre eu digo: “Coragem! És um decaído que na sombra reconquista a grandeza perdida”
É a justa reação da Lei que livremente transgredistes e que exige o retorno ao equilíbrio.
Instrumento de ascensão, a dor vos aponta o caminho de que fugistes; impõe-vos reabrirdes vossa alma, fechada pelas alegrias fáceis que infelizmente vos cegam, para que alcanceis júbilos mais altos e verdadeiros. A dor é uma força que vos constrange a refletir e a buscar, em vós mesmos, a verdade esquecida. É imposição de um novo progresso.
Abraça com alegria esse grande trabalho que te chama a realizações mais amplas. Se não fosse a dor, quem te forçaria a evolver para formas de vida e de felicidade mais completas?
Não te rebeles; pelo contrário, ama a dor. Ela não é uma vingança de Deus, e sim, o esforço que vos é
imposto para mais uma conquista vossa. Não a amaldiçoes, mas apressa-te a pagar o débito contraído pelo abuso da liberdade que Deus te deu para que fosses consciente. Abençoa essa força salutar que, superando as barreiras humanas, sem distinção transpõe todas as portas, penetra o que é secreto, e fere, e comanda, e dispõe, e por todos se faz compreender. Abraça a dor, ama-a, e ela perderá sua força. Aceita a indispensável escola das ascensões. Se te revoltares, tua força nada conseguirá contra um inimigo invisível e a violência, em retorno, mais impetuosamente cairá sobre ti.
Coragem! Ama, perdoa e ressuscita! Não procures nos outros a origem de tua dor, mas, sim, em ti
mesmo, e arrepende-te. Lembra-te de que a dor não é eterna, porém uma prova que dura até que se esgote a causa que a gerou. Tua dor é avaliada e não irá, jamais, além de tuas forças. O mundo foi criado para a alegria, e a alegria lhe voltará. Da outra margem da vida, outras forças velam por ti e te estendem os braços. Mais do que tu, anseiam pela tua felicidade.
Falei com o coração ao homem de coração. Falarei agora à inteligência.
Tendes, ó homens, a liberdade de vossas ações, nunca a de suas conseqüências. Sois senhores de semear alegria ou dor em vosso caminho, e não o sois de alterar a ordem da vida. Podeis abusar, porém se abusardes, a dor reprimirá o abuso. De cada um de vossos males, fostes vós mesmos que semeastes as causas.
O maior erro de vossos tempos é a ignorância da realidade moral, íntima orientação da
personalidade, e que é o fundamento da vida social.
O homem moderno se aproxima de seu semelhante para tomar-lhe alguma coisa, nunca para
beneficiá-lo. A vossa civilização, que é econômica, está baseada no princípio " do ut des " , que é a psicologia do egoísmo. É a força econômica sempre a reger o mundo. A psicologia coletiva não é, senão, a soma orgânica dessas psicologias individuais. A riqueza se acumula onde a força a atrai, e não onde a necessidade ou superiores exigências a reclamam; não constitui instrumento de uma vida de justiça e de bem mas, sim, máquina de poder representando, em si mesma, um objetivo. A lei de equilíbrio é constantemente violada e impõe reações. Não dominais a riqueza, conduzindo-a a fins mais elevados: é a riqueza que vos domina.
Trabalhai, mas que o escopo do vosso trabalho não se reduza, apenas, a proveitos isolados e egoístas,
mas sim, a frutificar no organismo social; somente então, se formará aquela psicologia coletiva, que é a única base estável da sociedade humana.
Fazei o bem, todavia lembrai-vos de que o pobre não deseja propriamente o supérfluo de vossas riquezas, mas que desçais até ele, que partilheis de sua dor e, até, que a tomeis para vós, em seu lugar.
Venerai o pobre: ele será o rico de amanhã. Apiedai-vos do rico, pois amanhã será o pobre. Todas as
posições tendem a inverter-se, a fim de que o equilíbrio permaneça constante. A riqueza tende para a pobreza e a pobreza para a riqueza. Ai daqueles que gozam! Bem-aventurados os que sofrem! Esta é a Lei.
Não confieis no mundo, que rirá convosco enquanto tiverdes força e bem-estar; confiai, antes, em Mim, que venho quando sofreis e vos trago auxílio e conforto. Já vedes, hoje, que a dor realmente existe, e que nem o ceticismo nem qualquer poder humano conseguem afastá-la.
Uma radical mudança verificar-se-á na sociedade humana, a fim de que a vida não seja um ato de
conquista, onde triunfe o mais forte ou o mais astuto, mas, sim, um ato de bondade e de sabedoria em que seja vitorioso o mais justo. Investigando-as com vossa ciência, achareis no íntimo das coisas essa suprema Lei de equilíbrio que vos governa; aprendereis que a bravura da vida não está em violar essa Lei, semeando para vós mesmos reações de dor, porém, em segui-la, semeando efeitos de bem. Deveis também aprender que o vencedor não é o mais forte — esse é um violador — e sim quem segue conscientemente o curso das leis e, sem violência, se equilibra no seio das forças da vida. As religiões já o revelaram, entretanto, não acreditastes; a ciência o demonstrará, todavia não desejareis ver. O momento é decisivo. Ai de vós se, nesta vitória de civilização material em que viveis, desejardes ainda perseverar no nível do bruto.
Está maduro o mundo, mas ao mesmo tempo, cansado de tentativas e experiências do irresolúvel
emaranhado de vossos expedientes. Cansado de viver no momento, em face de um amanhã repleto de incógnitas quer, seriamente, prever e resolver os grandes problemas da vida, quer francamente olhar o futuro, ainda que isso reclame uma grande coragem.
O mundo tem necessidade da palavra simples e forte da verdade e não de novas astúcias a rolarem
por velhos caminhos. O mundo espera essa palavra com ansiedade, como também a aguarda o momento histórico.
A psicologia coletiva tem o pressentimento, embora confuso, de uma grande mudança de direção; sente que o pensamento humano, não mais infantil, apresta-se para tomar as rédeas da vida planetária e que o homem vai substituir o equilíbrio instintivo e cego das leis biológicas por outro equilíbrio, consciente e desejado. Por isso está buscando a luz, para que seu poder não naufrague no caos.
Não está longe de desaparecer vossa psicologia experimental, que será substituída pela psicologia intuitiva; esta conduzirá a muito longe vossa ciência. Novos homens divulgarão a verdade; não mais serão mártires cobertos de sangue, nem se assemelharão aos anacoretas de outrora, porém homens de inteligência e de fé, que difundirão seus pensamentos utilizando-se de moderníssimos recursos, homens que servirão de exemplo no meio do turbilhão de vossa vida.
Despedaçai a férrea jaula que o passado para vós construiu, e onde já não vos resta espaço. Ousai
abandonar os velhos caminhos mas não ouseis loucamente, onde não há razão para ousadias; ousai na direção do alto, e nunca ousareis demasiadamente. Do grande mar de forças latentes, que não percebeis, imensa vaga levantará o mundo.
Até lá, guardai a fé! A vossa crise, se é profunda e dolorosa, fará nascer o homem novo do terceiro milênio.
Do livro: Grandes Mensagens - Pietro Ubaldi
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