IV - "O Despertar do Cristo Interno" ( Final)
O amor começa aqui, na Terra também. Aqui, na Terra, quando você começa a ter um amigo, você deseja que ele esteja sempre bem. Mas, aí, você começa a atritar com ele por causa dos seus pontos de vista, a dizer "Ah, é muito meu querido, mas isso aqui eu não gosto, tem esse defeito" e atrita. Depois, você vai ser mãe ou vai ser pai ou vai ser filho ou vai ser irmão e, aí, vai começando a desenvolver o amor. Inicialmente, o amor não vem com o Cristo. Mas você precisa do elemento amor. Então, você ama, mas ainda sofre.
Desenvolver o Cristo não é fácil. É algo que leva a algumas desistências. Mas estamos tendo a última oportunidade, antes da transição planetária. Então, não podemos perdê-la. Qual é a oportunidade? A oportunidade é a de se levantar e escolher entre o que você quer. Você quer viver sendo sempre dominado pela ilusão, pelo egoísmo, de pensar só em você, só no seu corpo, só na suas tentações prazerosas? Ou você quer viver com padrões, onde busque aquilo que não tem como lhe ser tirado?
Jesus veio trazer aqui para a Terra a mostra do que é o Cristo. Antes dele, já estavam escritas coisas sobre o Cristo. Já tinha o Bhagavad-Gita, por exemplo. Já tinha o evangelho de Buda. Já tinha diversas coisas que poderiam conduzir a humanidade rumo ao Cristo. Mas coisas escritas, papel, letras, nada de exemplo, teoria. A humanidade precisava de prática, alguém que mostrasse: "Olhem, é assim que se faz".
Uma teoria, quando uma pessoa isenta de Cristo pega, faz a teoria se enquadrar dentro das suas conveniências. Quer dizer; "Não. O amor é assim, porque assim é bom para o meu ego, é bom para o meu prazer. Simplesmente por isso é que o amor tem que ser dessa forma. O Cristo..." Cristo, nada. Aquilo ali é o ego da pessoa querendo que o poder dela aumente. É o que as diversas religiões fizeram no passado e que, hoje, não aprenderam a lição, mesmo Jesus vindo e mostrando: "Olha, gente, essa coisa de ficar lutando por poder, não.
Vamos nos amar. Vamos dar o exemplo. Vamos procurar compreender as leis e vivê-las. As leis de amor, as leis de justiça, as leis de sabedoria. Usar o poder com esses três elementos." Então, quer desenvolver, despertar o seu Cristo interno? A primeira coisa: não pense só em você. Se pensar só em você, nada de Cristo. Depois: por que estamos aqui? Busque perguntas, que não são tão superficiais: o que vou comer amanhã? Onde vou morar amanhã? Apenas. E o meu salário? Como é esse plano econômico, essa bolsa, a estabilidade econômica? Será que vou ter o mesmo nível de vida daqui a um mês, com o feijão dobrando o preço? Ficar só pensando nessas coisas não se desenvolve o Cristo.
Jesus teve que vir e nascer com um corpo semelhante ao nosso para provar que, mesmo tendo que comer, tendo que trabalhar, tendo que fazer tudo que o corpo exige que façamos, é possível desenvolver a força crística em nós. Uma pessoa que tem em si manifestada a força crística é estável. Não existe essa coisa de preocupações exageradas. Não existem perturbações, ansiedades, sofrimentos, dificuldades intransponíveis. Não existe isso. Materialmente, a gente está vivendo uma fase extremamente instável.
As expectativas de vida estão diminuindo demais. As pessoas não têm aspirações, porque a aspiração é só coisa material e o lado material está em declínio. Então, precisamos almejar algo mais amplo. E esse algo mais amplo é auto-realização.
Você já se perguntou: Deus de fato existe? Eu, quando era criança, sabia que Deus existia, mas não acreditava que era aquela pessoa que a religião predominante dizia que era e que ele só está dentro de um templo, que ele não estava em todos os lugares. Muitas vezes, eu até, quando ia fazer uma "arte", pensava: "ih, Deus está vendo. Mesmo eu estando aqui, encoberto, sei que Deus está vendo." Até que, depois de algum tempo, falei: "Gente, se Deus existe, onde ele está?" E sai numa busca determinada para achar Deus. Falei: "Onde ele estiver eu acho. Se ele está na morte, quando morrer, vou descobrir onde ele está. Eu vou achar e vou falar com ele." Porque eu não queria viver sozinho.
Você pode estar junto com a pessoa que você ama, com o seu pai, com a sua mãe, com o seu marido, com a sua esposa, com seus irmãos, mas tem determinadas coisas que eles não têm como compartilhar com você. São coisas tão íntimas que não têm como ser transmitidas ou recebidas por alguém. E essas coisas eu queria transmitir para alguém e queria receber de alguém. Sabia que esse único ser era Deus.
E eu vivia perguntando: "Deus, por que eu existo? Quando eu surgi? Quando você surgiu? Se você me criou, quem criou você? E quem criou quem te criou?" Isso, quando eu era criança. Meus pais, coitadinhos, sofriam, porque: "Quem criou Deus? Por que alguém criou Deus? Por que ele nos criou?" Então, ficava a maior coisa. Até que tive um contato com Deus, um contato pessoal.
Eu, que nunca ia à igreja, não gostava daquele "senta, levanta", apesar de não ter nada contra a religião. Mas, quando a gente é criança, a gente também não gosta de ficar sentando e levantado toda hora e abraçando gente que a gente nunca viu - não é? -, abraçando uma pessoa que pode te assaltar no final da missa. Então, achava aquilo muito estranho. Mas fugia. Nos domingos, arrumava sempre alguma coisa para não ter que encarar.
Era chamado de ateu - eu me considerava "à toa", não ateu - porque não queria saber de nada. Mas eu queria saber de Deus, mas ninguém tinha como me apresentar a ele. Chegava no padre: "Me apresenta Deus." "Ah, Deus está ali..." Era coisa muito intelectual e eu não gostava. Chegava num espírita: "Onde está Deus?" "Deus é amor". "Sim, mas eu não amo ainda." Chegava num budista: "Ah, Deus, você vai compreender quando alcançar o Nirvana e estiver num estado de perfeição e de equilíbrio." Mas e a motivação para alcançar o estado? Aí é que está. Eles falavam assim: "Olhe, respeita as leis, desenvolve o eu superior."
Mas e a motivação? Aqui, na vida, querendo ou não, a gente só funciona com motivação. Se você não tem algo que tenha interesse em ir adiante, você não vai adiante. Fica empacado ali, igual a uma mula. Só naquilo que está mais conveniente. E, aí, felizmente, ao invés de eu conseguir ir até Deus, ele veio até mim. E, numa voz sem som, pela primeira vez ele falou comigo: "Eu sempre estive com você, falando com você, transmitindo a vida para você. Mas você nunca me ouvia. Agora que você me ouve e me atende, vou guiar seus passos, até que, um dia, sejamos um." Eu estou sonhando com esse dia em que sejamos um. Por enquanto, eu só fico ouvindo.
A menor parte, eu cumpro. A maior, ainda não consigo, porque é coisa demais. Deus, a essência do eu superior - aqui, o Sol, que representa acima de nós, mas também pode ficar em nós - tem, não diria uma rigidez, mas ele cumpre as leis absolutamente e fica irradiando a consciência das leis da vida para nós. A partir desse contato, eu ia trabalhar.
No trabalho, eu prestava serviços. A pessoa que me contratava para um serviço eu observava: "Ah, eu posso cobrar tanto, porque a pessoa parece que pode pagar. Então, vou cobrar mais." Aí, o eu superior dizia: "Não está sendo justo com a pessoa. Você tem que cobrar só aquilo que é justo." "Ah, não. Mas olha, ele parece que pode pagar..." "Não. A questão não é se ela pode pagar ou não. A questão é que o justo não é flexível.
Então, seja justo." "Ah, não. Eu vou perder ou sou justo?" Isso, quem já estava falando era a justiça, acompanhada do amor. Aí, eu: "Ah, então, está bom. Então, vou ser justo." De início, assim, meio... Mas, depois, eu me sentia bem com aquilo. E, quando não era justo, eu me sentia mal com aquilo, porque eu sabia que quanto mais justo eu procurava ser nas minhas ações, mais eu estava de acordo com aquilo que a essência me falava, a essência amorosa. Depois, quando eu ia me relacionar afetivamente.
Para quem mesmo já é adulto ou adolescente, que está iniciando o lado afetivo, uma coisa: uma pessoa se aproxima, gostando de você ou te amando, apaixonada, e você não sente muita coisa pela pessoa. Mas você está sozinho, não tem nada melhor para fazer. Aí, você deixa a coisa acontecer. Só que você está brincando com o sentimento daquela pessoa. Nem sempre você está deixando bem claro para ela o seu sentimento ou aquilo que você não sente. Outras vezes, você deixa, mas a pessoa "não, tudo bem", aceita. Mas você vai fazer sofrer com isso. Você pode não sofrer, mas ela vai. E não tem amor nisso.
Amor justo, não tem. E, aí: "Poxa, e agora? Nem namorar eu posso mais?" Eu fiquei, digamos, meio contrariado com o meu Cristo interno, quando ele começou a desabrochar em mim. "Poxa, agora, pronto. O que vou fazer?" Aí, ele foi me educando, me educando em diversas coisas. E eu falei com ele: "Poxa, agora, não tenho mais nada para fazer. Se eu for assistir televisão, você diz que esse programa não é bom para mim, porque só está incentivando o lado inferior, o lado de desrespeito às leis da vida, a violência, a agressividade, tudo que é ruim. Então, a que vou assistir, não tem nada de bom na TV?
Então, não é fácil você desenvolver o Cristo interno, despertá-lo em você, porque quer dizer o seguinte: você vai ter que abrir mão de coisas. Mas eu só consegui fazer isso também quando comecei a perguntar por outras coisas. Começou a me mostrar coisas maravilhosas. Mostrar as sensações de existir com maior plenitude, de viver com maior plenitude. Outra coisa: um belo dia, eu acordei, depois de ter feito vários meses de trabalho, muito disciplinado, 24 horas por dia, cada minuto de auto-vigilância e auto-educação, numa bela manhã, quando acordei, que tentei abrir os olhos: um clarão.
Um clarão, assim, que falei: "Mas, gente, o que está acontecendo?" Aquele clarão. Quando eu percebi, meu Cristo interno incorporou em mim. E quando ele incorporou em mim, tive um contato com uma essência. Maravilhoso! Eu me senti um com Deus, um com a essência. Não sei quanto tempo, exatamente, durou isso. Entrei num êxtase. Quando sai do êxtase, parecia que eu estava dopado. Então, estava assim... Eu estava aqui, mas não estava aqui. E numa paz. Eu não via as pessoas simplesmente como pessoas.
Eu as via como pedaços de mim, como extensões de mim. Eu falei: "Gente, mas aquela pessoa sou eu. Eu sou aquela pessoa." Eu nunca sonhei que isso era possível. Não pode eu ser vocês e vocês serem eu. Isso é inconcebível para nós. Mas, quando você sente o seu Cristo interno, em determinados momentos, você não consegue ver ninguém como sendo alguém estranho, como sendo o outro, a outra pessoa.
Você vê como sendo você. Aí, nossa, não precisa nem falar que não tinha ninguém que me tirasse do sério. Um dia, um marginal foi me assaltar. Eu fique, assim, tão... que ele ficou até pensando: "Mas esse sujeito está é bêbado, só pode." Eu morava num lugar muito hostil. E, aí, ele veio, mas perdeu a motivação e foi embora. Mas ele podia me assaltar, que eu não estava nem aí, ficava peladão na rua, sem nenhum problema. Por quê isso? Porque a gente fica... Naturalmente, não estou mais nesse estado. Esse estado é um estado transcendental que não consegui sustentar por muito tempo. Olha, haja disciplina. Eu ainda não tenho esse grau de disciplina.
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