Podemos aprender a ser mais conscientes de nossa dependência mútua.
Dalai Lama
18 de agosto de 2014
"As previsões científicas para alterações ambientais são difíceis de serem inteiramente compreendidas por seres humanos comuns. Ouvimos falar de aquecimento global e elevação dos níveis dos oceanos, aumento dos índices de câncer, explosão demográfica, devastação de recursos, e extinção de espécies. Por toda parte, a atividade humana está acelerando a destruição de elementos-chave de ecossistemas naturais dos quais todos os seres viventes dependem.
Estes desenvolvimentos ameaçadores são individualmente drásticos e coletivamente surpreendentes.
A população mundial triplicou apenas neste século e espera-se que ela dobre ou triplique no próximo século. A economia global pode crescer um fator de cinco ou dez vezes, inclusive com índices extremos de consumo de energia, produção de gás carbônico, e desflorestamento. É difícil imaginar todas estas coisas realmente acontecendo durante a nossa vida e as vidas de nossos filhos. Precisamos considerar este panorama de sofrimento e degradação ambiental global sem par na história humana.
No entanto, penso que há boas notícias e que agora definitivamente teremos de encontrar novas formas de sobrevivermos juntos neste planeta. Já vimos neste século guerras, pobreza, poluição e sofrimentos suficientes. Segundo os ensinamentos budistas, tais coisas acontecem como resultado da ignorância e de atos egoístas, porque freqüentemente deixamos de ver a relação comum essencial entre todos os seres. A terra está nos enviando avisos e indicações claras dos vastos efeitos e potencial negativo do comportamento humano mal direcionado.
Para neutralizar estas práticas prejudiciais podemos aprender a ser mais conscientes de nossa dependência mútua. Todo ser senciente quer a felicidade em vez de dor. Então, compartilhamos o mesmo sentimento básico. Podemos desenvolver a ação correta para ajudar a terra e uns aos outros baseados em uma motivação melhor. Portanto, sempre falo da importância de desenvolver um senso genuíno de responsabilidade universal. Quando somos motivados por sabedoria e compaixão, os resultados de nossas ações beneficiam a todos e não a nós mesmos ou a alguma conveniência imediata. Quando conseguirmos reconhecer e perdoar atos ignorantes do passado, ganhamos força para solucionar os problemas do presente de forma construtiva.
Devemos estender esta atitude para sermos preocupados com todo o nosso meio ambiente. Como princípio básico, penso que é melhor ajudar se puder, e se não puder, pelo menos tentar não prejudicar. Esta é uma orientação especialmente adequada quando houver ainda muito a compreender sobre as inter-relações complexas dos diversos e únicos ecossistemas.
Precisamos saber cuidar, nós mesmos, de toda a Terra e da vida sobre ela, e também de todas as gerações futuras. Isto significa que a educação do meio ambiente é de grande importância para todos. O aprendizado científico e o progresso tecnológico são essenciais para melhorar a qualidade de vida no mundo moderno. Ainda mais importante é a prática simples de conhecer e melhor apreciar os nossos arredores naturais, e a nós mesmos, quer sejamos crianças ou adultos. Se tivermos um apreço verdadeiro pelos outros e resistirmos agir movido por ignorância, estaremos cuidando da Terra.
No sentido maior, educação ambiental significa aprender a manter um modo de vida equilibrado. Todas as religiões concordam que não podemos encontrar satisfação interna duradoura baseada em desejos egoístas e aquisição do conforto de coisas materiais. Mesmo se pudéssemos, agora há tanta gente que a terra não nos sustentaria por muito tempo. Penso que é muito melhor praticar apreciar uma simples paz de espírito.Podemos compartilhar a terra e juntos cuidarmos dela, em vez de tentarmos possuí-la e, no processo, destruir a beleza da vida.
As culturas antigas que se adaptaram aos seus meio ambientes naturais podem oferecer uma visão especial sobre a estruturação de sociedades humanas para que existam em equilíbrio com o meio ambiente. Por exemplo, os tibetanos estão singularmente familiarizados com a vida no Planalto do Himalaia. Isto evoluiu para uma longa história de uma civilização que cuidou de não sobrecarregar e destruir o seu frágil ecossistema. Os tibetanos há muito apreciam a presença de animais selvagens como símbolos da liberdade. Uma profunda reverência pela natureza está aparente em grande parte das artes e cerimônias tibetanas. O desenvolvimento espiritual prosperou apesar do limitado progresso material. Assim como as espécies podem não se adaptar a alterações ambientais relativamente repentinas, as culturas humanas também precisam ser tratadas com cuidado especial para garantir a sobrevivência. Portanto, aprender o modo de vida dos povos e preservar suas heranças culturais é também uma parte do aprendizado de cuidar do meio ambiente.
Eu sempre tento expressar o valor de ter um bom coração. Este simples aspecto da natureza humana pode ser alimentado e alcançar uma grande força. Com um bom coração e sabedoria, você tem a motivação correta e automaticamente fará o que for preciso. Se as pessoas começarem a agir com uma autêntica compaixão por todos, ainda podemos proteger uns aos outros e o meio ambiente natural. Isto é muito mais fácil do que ter que adaptar às condições ambientais severas e incompreensíveis que são projetadas para o futuro.
Agora, olhando de perto, a mente humana, o coração humano, e o meio ambiente estão inseparavelmente interligados. Neste sentido, a educação ambiental ajuda a gerar a compreensão e o amor que precisamos para criar a melhor oportunidade jamais vista para a paz e coexistência duradoura."
(Transcrita do Boletim EPA: Uma Revista sobre Perspectivas Nacionais e Globais do Meio Ambiente, publicada pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos, Washington DC, Setembro/Outubro de 1991, vol. 17, Número 4. Traduzido por Marly Ferreira.)
(Transcrita do Boletim EPA: Uma Revista sobre Perspectivas Nacionais e Globais do Meio Ambiente, publicada pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos, Washington DC, Setembro/Outubro de 1991, vol. 17, Número 4. Traduzido por Marly Ferreira.)
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