Aquele que caminha sobre a Terra está sujeito a tropeços. Cada tropeço é uma ferida aberta no corpo sutil
A caminhada na “Montanha Sagrada”
Lee em Ching
16 de outubro de 2014
Vidência – Saí do corpo e fui levada para a Montanha Sagrada no Nepal. Lá chegando, encontramos um grupo de monges, dentre eles o monge chinês chamado Lee em Ching, que foi meu pai em uma encarnação passada e o querido Francisco de Assis.
Em seguida, esse ser maravilhoso e comovente abaixou-se e calçou-me um par de "sandálias franciscanas", dizendo apenas: "esse trecho da caminhada deve ser percorrido com simplicidade". Explicou-me também que haveria pedregulhos no caminho e que descalça, eles poderiam me ferir. Nenhum outro tipo de calçado era possível utilizar; esclareceu que, com as sandálias eu sentiria os seixos sob os pés, mas que eles não me machucariam.
Todos começaram a andar e eu os segui. Havia um silêncio monástico no grupo e tentei silenciar meus pensamentos; comecei então a ouvir a frase: "Senhor, compaixão e misericórdia para toda humanidade".
Procurei entrar em sintonia desses pensamentos e seguir-lhes os passos, observando o caminho.
Tratava-se de uma estrada estreita de terra, aberta, na ondulação natural da montanha. Do lado direito moitas de vegetação baixa e bem verdes, como no ambiente de cerrado; e do lado esquerdo um despenhadeiro, também vegetado e que dava para um vale muito bonito. Creio que deva ser o Vale de Wesak, no oeste do Tibet, fronteira com Nepal. Parecia que estávamos bem alto, pois as coisas estavam pequenas lá embaixo, e o ar era bem fresco.
Após certo tempo de caminhada silenciosa, chegamos a um local onde, do lado esquerdo do caminho, ficava um despenhadeiro e havia um caminho de madeira, como se fosse uma ponte reta que terminava num mirante suspenso e coberto também por madeira.
O pequeno caminho de madeira se projetava além, não sei dizer quantos metros, da Montanha, sobre o despenhadeiro, e terminava nesse mirante. A vista era clara, de longe alcance e lindíssima. Logo o monge chinês iniciou uma prece:
– Mestre Maytreia, Buda da Compaixão, dignaste-vos a derramar sobre nós, vosso manto de misericórdia. Rogamos pelos incrédulos para que vosso amor, tocando-lhes as fibras mais íntimas do ser, faça-os sentir e, sentindo, creiam.
Com essas palavras do monge o céu revestiu-se de cor lilás. Alguém explicou que um dos Mestres da Grande Fraternidade Branca Universal (GFBU), derramou sua Luz sobre a Terra para abrir caminho na psicosfera terrestre para passagem do Buda da Compaixão.
Do mirante, olhando para cima se via o céu e agora ele se revestia da luz verde, manifestação de outro Mestre. Olhando para baixo se via muitas luzes pequenas que se mexiam lentamente. Eram os "caravaneiros" subindo a Montanha Sagrada. Ouvi o seguinte:
– Somos peregrinos da compaixão.
Um silencio respeitoso e profundo a tudo envolvia. Não havia tristezas, nem clamores. Não havia frivolidades, nem pensamentos tolos.
Todos estavam compenetrados num só pensamento: compaixão e misericórdia para a humanidade terrena.
Alguns grupos cantavam lindos mantras ao subirem. Alguns cânticos auxiliavam na respiração de quem subia, outros atuavam na elevação dos sentimentos. Quando um grupo entoava um mantra o outro calava e vice versa.
Mostraram-me diferentes trechos da subida. Em um deles havia barreiras de arame farpado e os peregrinos faziam grande esforço para superar aqueles obstáculos. Alguns tinham suas vestes rasgadas, outros sofriam arranhões. Alguns deles cortavam mais fundo e sangravam muito, precisando interromper a caminhada.
Achei estranha aquela visão e mentalmente questionei, por que aquele trecho da caminhada era tão difícil, ao que o monge chinês respondeu:
– Aquele que caminha sobre a Terra está sujeito a tropeços. Cada tropeço é uma ferida aberta no corpo sutil, a cujo dano corresponde um conserto. O dano pode ser superficial ou profundo, dependendo do tamanho do tropeço.
Às vezes, um arranhão leve é facilmente suportado, outras vezes o arame corta a carne, fazendo sangrar, exigindo tempo para reparar o dano. Outras vezes o discípulo necessita da enfermaria como pouso para os pontos requeridos na ferida.
Como na vida.
Os erros podem ser leves e de fácil reparo, ou podem exigir parada mais demorada, visando a corrigenda necessária. Outros erros nos enviam para ambientes onde necessitamos estagiar, até que cicatrize a ferida que nosso descuido provocou.
A caminhada na Montanha Sagrada é para muitos discípulos da Luz, uma lição.
Todos querem alcançar o topo da Montanha, que representa as "Esferas Superiores da Vida", mas no caminho, é preciso aprender a se portar, a caminhar.
É preciso suportar o desconforto do caminho, pois são nossas lições.
É preciso compreender, refletir, meditar.
Uma palavra precipitada, um gesto agressivo, um pensamento infundado, um ato irresponsável e nos comprometemos.
Após a explicação vi outros trechos do caminho e cada vidência vinha seguida de uma explicação. Um trecho tinha grandes crateras que obrigavam os peregrinos a descer, e depois subir sistematicamente despendendo grande esforço.
– O sobe e desce, representa o movimento de nossas emoções que nos movem para cima e para baixo incessantemente, como numa gangorra.
Havia também um trecho com estrada super estreita e abaixo dela um barranco imenso, de forma que o caminheiro tinha que atravessar grudado na Montanha. Seguiu a explicação:
– Justa medida de progresso, quando desperdiçamos todas as oportunidades e a Lei nos impõe a dor como colheita.
Outro trecho da Montanha apresentava animais que atacavam caminheiros.
– Passar sem ser notado, não despertando as feras. Não ferir, para não ser ferido.
A caminhada pela Montanha Sagrada não é roteiro turístico. Cada pessoa autorizada a transitar por ela, traz uma tarefa compatível com as instruções recebidas por seus Mestres e deve prestar contas de sua aprendizagem ao final da caminhada.
Uma vez por ano, no Festival, muitos Mestres trazem seus discípulos para provar-lhes o progresso realizado. É uma grande honra ser selecionado para iniciação na peregrinação sagrada.
Nos vários níveis de energia, formados pelos planos e sub-planos das dimensões sutis, que constituem a Montanha, há oportunidades de aprendizagem.
A Montanha é ao mesmo tempo caminho e escola, onde o aluno, ao caminhar, coloca em prática seus estudos.
Ela é força e vida para aqueles que comungam da Lei do Progresso. Ela é "Santuário e Altar de Amor a Deus", onde nos prostramos reconhecidos ao Pai por Sua Misericórdia Infinita, e de nós mesmos reconhecidos da imensa inferioridade que ainda nos domina o ser.
Altar de nossas mais elevadas aspirações.
Santuário de nossa evolução.
Portal de Luz, a Montanha Sagrada é a passagem que desejamos percorrer para os Mundos Felizes.
P – Quem sois?
R – Seu Instrutor da primeira hora, Lee em Ching.
P – Aquele que numa encarnação passada foi meu pai?
R – Sim.
De joelhos e profundamente emocionada toquei a ponta de seu manto na minha testa, num gesto tradicional do qual não tinha consciência, mas que parecia estar gravado em minha memória. Pedi perdão pelos erros do passado e agradeci a oportunidade do reencontro.
Lee em Ching
GESH
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