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Os Amigos de Caminhada!

O vírus nos isola e individualiza.

O coronavírus de hoje e o mundo de amanhã
Byung-Chul Han

Na verdade, vivemos durante muito tempo, sem inimigos. A Guerra Fria terminou há muito tempo. Ultimamente, até o terrorismo islâmico parecia ter se deslocado a áreas distantes.

Há, exatamente, dez anos, afirmei em meu ensaio ‘Sociedade do Cansaço’ a tese de que vivemos em uma época em que o paradigma imunológico perdeu sua vigência, baseada na negatividade do inimigo.

Como nos tempos da Guerra Fria, a sociedade organizada imunologicamente se caracteriza por viver cercada de fronteiras e de cercas, que impedem a circulação acelerada de mercadorias e de capital. A globalização suprime todos esses limites imunitários, para dar caminho livre ao capital. Na sociedade do rendimento, se guerreia, sobretudo, contra si mesmo.

Em meio a essa sociedade tão enfraquecida imunologicamente pelo capitalismo global, o vírus irrompe de supetão. Em pânico, voltamos a erguer limites imunológicos e fechar fronteiras. O inimigo voltou. Já não guerreamos contra nós mesmos. E, sim, contra o inimigo invisível que vem de fora. O pânico desmedido causado pelo vírus é uma reação imunitária social, e até global, ao novo inimigo. A reação imunitária é tão violenta, porque vivemos, durante muito tempo, em uma sociedade sem inimigos, em uma sociedade da positividade, e agora o vírus é visto como um terror permanente.

O vírus não vencerá o capitalismo. A revolução viral não chegará a ocorrer. Nenhum vírus é capaz de fazer a revolução. O vírus nos isola e individualiza. Não gera nenhum sentimento coletivo forte. De alguma maneira, cada um se preocupa somente por sua própria sobrevivência. A solidariedade, que consiste em guardar distâncias mútuas, não é uma solidariedade que permite sonhar com uma sociedade diferente, mais pacífica, mais justa. Não podemos deixar a revolução nas mãos do vírus. Precisamos acreditar que, após o vírus, virá uma revolução humana. Somos NÓS, PESSOAS dotadas de RAZÃO, que precisamos repensar e restringir, radicalmente, o capitalismo destrutivo, e nossa ilimitada e destrutiva mobilidade, para nos salvar, para salvar o clima e nosso belo planeta.

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Byung-Chul Han é um filósofo e ensaísta sul-coreano que dá aulas na Universidade de Artes de Berlim. 

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