Especialmente preocupante é a trajetória atual das mudanças climáticas potencialmente catastróficas
Em 1992, um grupo de 1.700 membros da "Union of Concerned Scientists", uma organização sem fins lucrativos dedicada ao estudo do impacto das sociedades no mundo natural, lançaram uma carta aberta ao mundo para alertar que os seres humanos estavam "em um curso de colisão com a natureza".
O primeiro parágrafo dessa carta dizia: "As atividades humanas infligem danos severos e, muitas vezes, irreversíveis ao meio ambiente e em recursos críticos. Se não observarmos que muitas das nossas práticas atuais colocam em risco o futuro que desejamos para a sociedade humana e os reinos vegetais e animais, isso pode alterar o mundo vivo a ponto dele se tornar incapaz de sustentar a vida da maneira que conhecemos. Mudanças fundamentais são urgentes se quisermos evitar a colisão que o nosso curso atual trará".
No aniversário de 25 anos dessa carta, 15 mil cientistas de 184 países assinaram um segundo alerta para a humanidade. Capitaneado pelo ecologista William Ripple, da Universidade Estadual de Oregon, nos EUA, o texto afirma que "a humanidade não conseguiu fazer progressos suficientes na resolução geral dos desafios ambientais previstos e, de forma alarmante, a maioria deles ficou muito pior. Em breve, será tarde demais para mudar o curso da nossa trajetória falha".
Publicada no dia 13 de novembro na revista BioScience, a mensagem dilui a ilusão de que dispomos de uma eternidade para mudar o curso de nossas ações. Em vez disso, alerta que nossos filhos, netos e bisnetos sofrerão consequências dos desmandos sobre o meio ambiente, como escassez de água e alimentos, aumento do nível do mar, secas e enchentes severas que ameaçam a vida no Planeta.
"O bem-estar humano será gravemente prejudicado pelas tendências negativas de danos ambientais, como o clima em mudança, o desmatamento, a perda de acesso à água doce, a extinção de espécies e o crescimento da população humana", advertem os cientistas no artigo. Os autores compilaram dados de artigos científicos, agências governamentais, organizações sem fins lucrativos e pesquisadores individuais.
Desde o primeiro aviso, o cientistas observaram piora em vários indicadores ambientais. Em 25 anos, verificou-se uma redução de 26% na quantidade de água fresca disponível por habitante, queda na disponibilidade de recursos pesqueiros nos oceanos, um aumento de 75% no número de zonas mortas nos oceanos, perda de cerca de 300 milhões de hectares de floresta (grande parte convertida para uso agropecuário) e disparada das emissões globais de gases efeito estufa.
"Especialmente preocupante é a trajetória atual das mudanças climáticas potencialmente catastróficas, devido ao aumento de gases de efeito estufa da queima de combustíveis fósseis , desmatamento, e produção agrícola, particularmente de ruminantes para consumo de carne", diz o texto.
Na carta, os cientistas também alertam para extinção em massa que o mundo atravessa — "a sexta em cerca de 540 milhões de anos, em que muitas formas de vida atuais poderiam ser aniquiladas até o final deste século". Em 25 anos, houve aumento de 35% na população humana e redução total de 29 por cento no número de mamíferos, répteis, anfíbios, aves e peixes.
O aviso veio com sugestões de medidas que podem ser tomadas para reverter as tendências negativas. O autores esperam que elas aumentem a pressão pública para que líderes políticos abracem essa agenda. A lista inclui a criação de reservas naturais terrestres e marinhas, a redução do desperdício de alimentos, o desenvolvimento de tecnologias mais ecológicas e o estabelecimento de incentivos econômicos para mudar os padrões de consumo (como adoção de dieta baseada em vegetais), uso massivo de energia renovável e combate mais enérgico às emissões de gases de efeito estufa.
Apesar do cenário nebuloso, os autores ressaltam que o progresso observado em algumas áreas - como a redução das emissões de produtos químicos que destroem a camada de ozônio e o aumento da energia gerada a partir de fontes renováveis - mostra que mudanças positivas podem ser feitas.
Antevendo eventuais críticas, como a de serem taxados de "alarmistas", os autores pontuam que "os cientistas analisam dados e consequências a longo prazo. Aqueles que assinaram este segundo aviso não estão levantando um alarme falso. Eles estão reconhecendo os sinais óbvios de que estamos indo para um caminho insustentável".
E concluem: "Esperamos que o nosso artigo inicie um amplo debate público sobre o ambiente e o clima globais".
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Revista Exame
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