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E se o Polo Norte derreter? Cientistas explicam as projeções para 2035


Pólo Norte à noite, imagem de satélite da Terra à noite. Metrópoles

         Pólo Norte à noite, imagem de satélite da Terra à noite. ( Getty Images)

 E se o Polo Norte derreter? Cientistas explicam as projeções para 2035

Bruno Bucis

16/02/2025 

Pesquisas indicam que o Polo Norte pode perder permanente a camada de gelo até 2035, afetando a fauna, o clima global e a geopolítica

O Polo Norte enfrenta um derretimento acelerado nos últimos anos. Segundo projeções publicadas em janeiro na revista Nature Communications Earth & Environment, é esperado que a última zona de gelo permanente do Ártico derreta em julho de 2035.

Mesmo as previsões mais conservadoras feitas por cientistas da Universidade McGill, no Canadá, apontam que o Oceano Ártico central esteja livre de gelo na maioria dos verões até 2067.

Afinal de contas, isso significa que a terra do Papai Noel vai deixar de ter gelo para sempre? Quais impactos o derretimento desta zona terá para as diversas espécies que dependem do gelo e do frio para sobreviver? Como o fenômeno pode afetar o restante do mundo?

O Polo Norte

O Polo Norte é a zona da Terra que fica dentro do Círculo Polar Ártico. A região é composta pela Groenlândia, o norte do Canadá (Nunavut) e da Rússia (Sibéria) e de países da Escandinávia, como Suécia e Finlândia. No centro, estão as ilhas do arquipélago de Svalbard, pertencente à Noruega.

Apesar da área extensa, o território é pouco povoado, justamente pelo clima inóspito, concentrando menos de 150 mil habitantes. Nos últimos anos, porém, a região passou a sofrer um progressivo aumento da exploração econômica.

Iceberg derretendo na Baía de Disko, na Groenlândia. Groenlandia desgelo aquecimento gloibal polo norte

                    Iceberg derretendo na Baía de Disko, na Groenlândia, Polo Norte ( Getty Images)

O glaciologista Jefferson Simões, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e membro da Academia Brasileira de Ciências (ABC), afirma que estamos vivendo uma acelerada transformação na região.

“Temos visto que a cada verão a cobertura de gelo do Ártico está menor e esta é a zona com maior aquecimento proporcional do mundo — até três vezes maior do que algumas regiões do globo. A tendência é clara: o gelo está derretendo mais rápido”, diz Simões.

De acordo com o especialista em zonas de gelo permanente, isso ocorre por que o terreno sem gelo absorve mais energia do sol do que a neve, que tende a refleti-la de volta. Então quanto menos neve há, mais a água e a terra absorvem calor, gerando um ciclo maior de aquecimento.

Consequências atuais

Com a redução do gelo marinho, novas rotas de navegação estão se tornando viáveis, especialmente entre a Europa e o Oriente — passando pela costa da Sibéria ao invés de contornar a África. Para as empresas, é um lucro de até 100 mil dólares por viagem.

A região não tem despertado apenas o interesse como rota de transporte, mas também como fonte de recursos. Mais países têm buscado meios de explorar as fontes de petróleo e gás nas águas internacionais.

A costa da Sibéria possui uma das maiores zonas inexploradas de petróleo do mundo e há um crescente interesse em explorá-la. A área, que antes era livre de árvores por conta do clima desértico do gelo, também está se tornando cada vez menor.

E se o Polo Norte derretesse para sempre?

Com o desgelo progressivo, espécies como ursos polares e focas-aneladas ficam com a sobrevivência ameaçada. O desaparecimento do gelo marinho, habitat essencial para esses animais, poderia provocar um colapso da biodiversidade da região, além de afetar o mundo como um todo.

“Se derretesse todo o gelo, a gente teria implicações generalizadas, não só na região do Ártico, mas em outras partes do planeta. O derretimento de gelo continental pode causar a elevação do nível do mar e afetar as cidades litorâneas, por exemplo”, explica Raquel Avelina, oceanógrafa e pesquisadora da UERJ, apoiada pelo Instituto Serrapilheira.

Estima-se que, até o ano de 2100, o nível global dos oceanos suba cerca de 30 centímetros com o derretimento permanente do gelo do Polo Norte. O aumento global pode ultrapassar um metro nas décadas seguintes, com impactos até no Brasil.

                                             Gelo no Ártico derrete de forma acelerada

“Com relação à biodiversidade do próprio Ártico, se não existe gelo marinho ou na parte terrestre, uma série de animais começa a ser impactada, impedindo até a sobrevida de ursos polares”, completa Raquel.

Animais marinhos também teriam seus ciclos de vida e reprodução alterados pelas mudanças climáticas, com diversas espécies correndo risco de extinção.

É possível evitar?

“Se nada for feito e esse aquecimento levar ao derretimento do gelo marinho, inclusive durante o inverno, é claro que o processo pode tomar uma direção incontrolável. Se a temperatura global continuar subindo, a sobrevivência em geral fica ameaçada”, afirma Simões.

Embora a situação não seja fácil de se resolver, cientistas tentam desenvolver medidas de mitigação e adaptação. “É preciso reduzir emissões de CO2 e a queima de combustíveis fósseis, mas é uma situação complicada. Por isso precisamos ser engajados para evitar entrar em um ciclo totalmente irreversível. Talvez ainda seja possível mitigar esses efeitos”, conclui Raquel.

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