2. E' uma advertencia para aqueles que ainda nao compreenderam... ( parte 2)
A Terra
— Daqui, meu filho, contemplará a Terra — disse Orcus — O planeta gira no espaço a
milhões de anos impulsionado pelas forças vivas da Vida. Como ele, trilhões e trilhões de outros giram na marcha ascensional dos mundos. E neles a vida se expande em todas as formas e em múltiplas manifestações.
Contemplei a Terra que semelhava realmente uma laranja de formato irregular e
estranho. Não era a forma redonda que nos é representada nas escolas e ginásios do orbe mas sim um corpo repleto de saliências e tocado de luz e sombra nas eminências e nas reentrâncias. Vales profundos e picos elevados, superfície brilhante à luz do sol indicando as grandes massas d'água. De fato, àquela distância, todos os problemas terrestres perdiam o interesse. De que valiam as lutas e guerras humanas? De nada.
Víamos a Terra e compreendíamos que o Homem gasta imensas energias por nada. Visto de longe, o nosso mundo era modesto departamento de educação no turbilhão do Cosmo.
— Observe bem, acrescentou Orcus, e poderá ver o desenho dos continentes e dos
países recortados, perfeitamente.
Busquei ansioso com o olhar o continente Americano e, particularmente, o Brasil.
Lá estavam modelados na Crosta Terrestre acompanhando a marcha do mundo.
Ligeiro colorido marrom terroso sob uma névoa plúmbea cobria os continentes.
Verifiquei que o meu olhar, agora dilatado, atravessava com relativa facilidade a
grande extensão pertencente à faixa da atmosfera terrestre.
Não pude me deter melhor na análise de nossa casa planetária porque Orcus me
informou:
— Prepare-se para descer. Aqui, meu amigo, iniciaremos a nossa jornada em
demanda das profundidades e dos abismos onde habitam os Gênios da sombra e do mal.
Senti uma espécie de calafrio.
Como mergulhadores, abraçados, começamos a descer. A mente de Orcus qual poderoso motor vibrava aceleradamente. Minha mente, porém, não podia acompanhar-lhe o ritmo na descida vertiginosa e eu, agarrado a ele, precipitei-me naquela estranha aventura ao encontro do Abismo.
Na Sub-Crosta
Nossa mente sentia o impacto das vibrações cósmicas que nos atingia na descida
vertiginosa. O Globo Terrestre aproximava-se no imenso mar do espaço etéreo. Orcus era um grande pássaro que se precipitava numa velocidade indescritível.
Aos poucos percebemos a faixa da atmosfera terrena, de cor plúmbea, como um rio que cortasse repentinamente as águas do oceano. À nossa frente surgiam os continentes, enquanto a Casa Terrestre rodava sobre si mesma. O turbilhão da mente em altíssima freqüência vibratória atravessava as grandes massas de radiações que, como vasto cinturão, circundavam o Globo.
Percebi que centenas de tonalidades de cor misturadas compunham a crosta terrestre,
predominando no entanto o amarelo, o marrom e o vermelho. Notei que repentinamente
penetrávamos camada mais densa.
— Estamos atravessando a crosta— disse Orcus.
— Mas como? A crosta da terra?
— Sim, a crosta da Terra. Você não pode compreender bem o problema porque
ainda vê com os olhos de homem do mundo. Eu, porém, vejo com os olhos do espírito.
— Mas a terra não é compacta, dura, intransponível?
— Não, não é bem isso. A Terra é,compacta e oferece resistência aos corpos de
certa densidade como os que existem na sua superfície. O homem pela sua densidade
física e pela densidade dos objetos que fazem parte de seu mundo, encontra a terra dura, difícil de ser vencida ou "varada". Mas para a densidade dos espíritos a crosta terrestre é como você está vendo, apenas um turbilhão de poeira em movimento.
De fato, nós agora percorríamos extensa faixa de poeira em movimento semelhante
à poeira que se levanta na superfície do Globo quando este é varrido por um forte vento. Na realidade, não encontrávamos ali a terra que nós tão bem conhecemos e com a qual convivemos. Não oferecia resistência à nossa passagem e somente nos lembrava uma camada mais espessa de atmosfera. Fiquei assombrado. Nunca supus que se pudesse penetrar daquela forma o seio da terra!
— Mas, e o calor? Não diz a ciência que a cada trinta e três metros de descida
corresponde o aumento gradativo de um grau de calor?
— E o que tem isso? É verdadeira a afirmativa científica terrestre, mas isso não nos
impede de penetrar terra a dentro nem nos atinge.
Calei-me, de novo admirado. Enquanto meditava, prosseguia na descida vertiginosa
sob o controle poderoso de Orcus.
— Vamos parar — exclamou o Espírito, de repente. Pude observar que nos
aproximávamos de imensas cordilheiras que exibiam pináculos inaccessíveis se vistos de baixo. Além deles, nas profundezas, abismos escuros se abriam aos nossos olhos acostumados, agora, à visão panorâmica das alturas.
Orcus segurou-me fortemente e compreendi que diminuíamos a velocidade como dois
torpedos que chegassem ao objetivo. Em seguida pousamos na ponta de um penhasco.
— Vencemos, felizmente, a "poeira terrestre" — explicou o mensageiro. Aqui, por um
pouco, estaremos seguros.
Ficamos de pé. Ventos úmidos gemiam naquelas regiões sombrias. Leve claridade se
filtrava através da poeira que turbilhonava acima de nossas cabeças. As cristas abruptas
encharcadas de estranho líquido escorregadio lançavam-se, perigosamente, das alturas. Eu nunca vira na terra coisa igual. Eram centenas e milhares perdidas na vastidão do Abismo. A princípio não se via ninguém. Tudo silencioso e soturno. Parecia o fim do mundo ou o início da Criação. Do silêncio e das trevas uma espécie de terror caminhava para nós.
Não foi por aqui que passou Dante Alighieri?* — perguntei.
—Não, ele seguiu outro caminho —esclareceu Orcus. Dante buscava outras
regiões. No entanto, se for permitido, passaremos um dia por onde ele passou.
Senti um arrepio. Estaríamos a caminho do Inferno?
* Notável poeta florentino, médium extraordinário, também relatara aspectos do interior da Terra e de algumas zonas acima da superfície ou mesmo no ambiente atmosférico terrestre.
Continua... ( parte 3)
Do livro: O Abismo - Andre' Luis - atrave's de R.A. Ranieri
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