Fomos chamados a uma parte desta região onde muitas pessoas deveriam estar reunidas...
Você gostaria de saber algo mais sobre a forma que trabalhamos aqui e as condições em que usamos nossa vida. Não são todos os que vêm para cá que podem entender uma das verdades elementares que é necessário assimilar para se progredir: que Deus não é mais visível aqui do que na vida terrena. Esperam encontrá-Lo pessoalmente, e ficam muito desapontados quando lhes contam que esta é uma idéia errônea sobre a forma com que Ele age sobre nós. A vida e a beleza d’Ele são quase aparentes na terra para aqueles que conseguem olhar mais profundo que a aparência externa. Assim é aqui também, com esta modificação: a vida aqui é mais tangível, e mais fácil de ser percebida e usada por aqueles que estudam sua natureza, e em tudo em torno de nós ela palpita, e nós, estando num estado mais sensível, podemos senti-la mais que quando estivemos na vida da terra. Ainda mais, tendo dito isso de forma genérica, é verdadeiro dizer que, de vez em quando, manifestações da Presença Divina nos são dadas, quando por algum propósito em particular se faz necessário; e uma dessas, passo a contar-lhe agora.
Fomos chamados a uma parte desta região onde muitas pessoas deveriam estar reunidas, de diferentes credos, fés e localidades. Quando chegamos, vimos que um grupo de espíritos missionários havia retornado de seu período de compromissos numa região fronteiriça da esfera terrestre, onde estiveram trabalhando com almas recém chegadas que não percebiam que haviam atravessado a linha demarcatória entre a terra e o mundo espiritual. Muitos eram luminosos, mas foram trazidos ao local para que se encontrassem conosco numa ação de graças, antes de seguirem aos seus próprios planos. Eram de idade variada, já que os velhos não haviam progredido ainda para tornarem-se jovens e vigorosos novamente; os jovens não haviam atingido a idade plena. Todos estavam reunidos com muita expectativa, e, conforme os grupos destes novos companheiros nesta vida chegavam uns após outros, eles observavam maravilhados suas faces e as diferentes cores de roupagens usadas pelas várias ordens e hierarquias.
Aos poucos, ficamos todos reunidos e então ouvimos um acorde de música que pareceu nos invadir a todos, unindo toda esta multidão em uma só grande família. Então vimos uma grande cruz de luz aparecer. Parecia estar apoiada na encosta da grande montanha que delineava a planície e, enquanto a observávamos, ela começou a se desmanchar em centelhas de luz brilhante, e em pouco tempo percebemos que era uma enorme falange de anjos de uma esfera mais alta que ficou ali, formando uma cruz perto da montanha; tudo em torno deles cintilava em dourado, e podíamos sentir, mesmo à distância, suas cálidas emanações amorosas.
Gradualmente eles foram ficando mais nítidos para a nossa visão, conforme tornaram-se mais presentes neste ambiente inferior ao deles, e então vimos, parado na parte onde está o cruzamento dos dois braços da cruz, um Ser maior. Parecia que instintivamente todos sabíamos que era Ele. Era uma manifestação do Cristo naquilo que conhecem como Forma Presente.
Ele ficou ali, silencioso e estático, por algum tempo, e então levantou Sua mão direita ao alto, e vimos uma coluna de luz descer e ficar ali enquanto Ele ali a mantinha. A coluna era um caminho, e nele vimos outra falange descendo e, quando chegaram até o braço levantado, ali pararam e ficaram silentes com suas mãos cruzadas sobre o peito e cabeças inclinadas. Então a mão moveu-se até que tivesse rodeado tudo até embaixo, os dedos apontando a planície, e vimos a coluna estender-se em nossa direção a meia altura, até que ligou o espaço entre a montanha e a planície, e a extremidade dela ficou sobre a multidão agrupada ali.
Ao longo desta coluna caminhou a falange que se tornara visível por último, e pairaram sobre nós. Abriram seus braços então, e todos vagarosamente voltaram-se em direção à montanha, e suavemente ouvimos suavemente suas vozes, uma parte declamando e outra cantando um hino de devoção a Ele Que ali estava, tudo tão belo e tão sagrado que primeiramente ficamos em silêncio. Mas depois nós também aprendemos suas palavras e cantamos, ou declamamos com eles; já que, evidentemente, era esse o propósito deles ao virem até nós. Enquanto cantávamos, elevou-se entre nós e a montanha uma neblina de matiz azulado que tinha um efeito muito curioso. Parecia agir como uma lente telescópica, trazendo a visão d’Ele para mais perto, até que pudemos ver a expressão de Sua face. Aquilo agia assim também nas formas daqueles que ficaram bem abaixo d’Ele. Mas nós não tínhamos olhos para eles, somente para a Sua face e forma, tão graciosas. Não posso descrever a expressão. Era um misto de coisas que as palavras não traduzem, a não ser em pequena parte. Havia mesclados o amor, a piedade, a alegria e a majestade, e eu senti que a vida era uma coisa muito sagrada, quando unia a Ele e a nós em um só laço. Penso que os outros sentiram a mesma coisa também, mas não nos falávamos, estando toda a nossa atenção voltada para a visão d’Ele.
Então, lentamente a neblina esvaneceu na atmosfera, e vimos a cruz na montanha e Ele como antes, apenas visto com mais dificuldade; e os anjos que haviam se aproximado de nós foram em embora, pairando agora sobre Ele. Então, gradualmente tudo sumiu. Mas o efeito foi um sentimento muito definido de Sua Presença muito atuante e perpétua. Talvez tenha sido esse o objetivo desta visão ser oferecida aos recém chegados que, apesar de não poderem ver tão claramente como nós que estávamos aqui há mais tempo, mesmo assim puderam ver o suficiente para que os encorajasse e lhes desse paz.
Ficamos por ali por mais algum tempo, e então, silenciosamente, seguimos nosso caminho, não conversando muito porque estávamos impressionados com o que havíamos testemunhado. E também, depois de todas estas Manifestações sempre havia muito em que pensar. É tão glorioso que ninguém pode captar todo seu significado enquanto ela esteja acontecendo. Deve-se pensar sobre ela gradualmente; e conversamos entre nós sobre tudo, cada um dando suas impressões, e agrupando todas, descobrimos que uma revelação havia sido feita, sobre algo que não entendíamos muito bem. Naquele momento o que mais parecia haver nos impressionado foi o poder que Ele tinha de falar a nós silenciosamente. Não pronunciara uma só palavra, mas nos pareceu estarmos ouvindo Sua voz conversando conosco a cada movimento que fizesse, e entendemos muito bem o que a voz dizia, apesar de que realmente nada falara.
Isso é tudo o que lhe posso contar por agora, portanto, adeus, querido filho, e possa você ver, como realmente verá, um dia, o que nosso Senhor, tem guardado para aqueles que O amam.
Livro - A Vida Além do Véu
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