A solidao...
Sete coisas que você pode fazer para superar a solidão
Alejandro Tovar
O poeta espanhol Gustavo Bécquer dizia que “a sociedade é muito linda, quando se tem alguém para dizer isso”. Uma reflexão nua e crua, quando o Instagram se enche de férias, eventos sociais e diversões alheias. Algo acontece. Talvez o tempo tenha feito você se desconectar daqueles que antes chamava de "amigos". Ou as obrigações, as mesmas que acabaram com sua união anterior, tenham impedido que você encontre um novo par.
O certo é que, ultimamente, você se sente muito só. E, como você, até uma em cada quatro pessoas nas cidades. Inclusive as que estão sempre rodeadas de gente.
Essa solidão, não escolhida, provoca mais do que dor. Segundo “uma análise de 70 estudos com mais de três milhões de participantes, [a solidão] aumenta as probabilidades de mortalidade em até 29%, aproximadamente. o mesmo que a obesidade”, escreveu John T. Cacioppo, catedrático de Psicologia da Universidade de Chicago.
Como primeiro passo para combatê-la, convém entender uma coisa: “Todas as emoções são energias para agir e, embora seja certo que a solidão pertence à esfera da tristeza, não é mais do que a semente da mudança”. É o que explica Ángel Luis Sánchez, psicólogo e diretor do Instituto de Desenvolvimento, na Espanha. Ele diz que o problema chega quando “ficamos estancados com a solidão, sem evoluir”.
Veja, a seguir, algumas dicas para lutarmos contra a ameaça de que a solidão se instale em nossa cabeça.
Está sozinho ou se sente sozinho?
Você realmente está só? Em muitas ocasiões, as circunstâncias nos levam a adotar um papel passivo que dificulta determinar por que estamos assim. Como passo prévio, “é importante diferenciar entre estar sozinho; sentir-se sozinho ainda que estando com pessoas; e o sentimento de vazio”, explica a psicóloga clínica Lecina Fernández, autora do livro Ilusión Positiva (Ilusão positiva). É que estar sozinho não tem por que ser negativo. De fato, é o melhor cenário para encontrar a calma e poder refletir. Por outro lado, “sentir-se sozinho de fato tem uma conotação negativa, vinculada à insatisfação, ao abandono e ao desamparo, sentimentos que podemos ter apesar de compartilhar rotinas com pessoas nas quais, realmente, não encontramos o apoio necessário para vencer esses males”, esclarece. Por último, a especialista define a sensação de vazio como a mais cruel, pois, embora pareça similar ao fato de estar sozinho, “tem raízes mais profundas, anula qualquer motivação e nos empurra a ver somente a escuridão da vida”. Fernández lembra: se conseguirmos detectar essa diferença, se reconhecermos os alarmes, será mais fácil encontrar soluções para cada um dos sentimentos.
Do “sem você não sou nada” à genialidade da sociedade
“Para que a felicidade pessoal não dependa da presença de ninguém, é necessário ser capaz de estar bem consigo mesmo”, diz o psicólogo Ángel Luis Sánchez, que tenta lutar contra essas construções sociais, plasmadas em canções, que sentenciam que “sem você não sou nada” e que “não devemos correr atrás das borboletas, e sim cuidar nosso jardim para que elas venham até nós”. O também psicólogo Jesús Matos, especialista em gestão da tristeza, completa: “A solidão não tem por que ser entendida como algo negativo. É o único espaço em que você pode estar consigo mesmo, em plenitude.” E, num mundo onde os estímulos costumam gozar de todo o protagonismo, escutar o que precisamos dizer a nós mesmos não deveria ser representado como um cenário negativo. Estar sozinho, às vezes, é até mesmo um incentivo para a genialidade.
Só de abrir um livro você já começa a recuperar o controle
Ser proativo é o primeiro passo para romper a dinâmica negativa. “O melhor é incorporar pequenos avanços no dia a dia e ir enchendo a vida daquilo que nos faz sentir bem”, afirma Sánchez. Uma conversa breve – embora pessoal – com alguém que tenhamos perto, atividades grupais na academia, clubes onde você possa praticar hobbies também em grupo. Ou leitura, ou esporte individual... O importante é assumir o controle: “Quando você é proativo”, diz Fernánez, “começa a ter a sensação de que assume o comando de sua vida.” Colocar ordem diminui a ansiedade e, ao perceber os resultados dessas decisões, “você obtém um prêmio que se transforma num reforço, na percepção de que aos poucos voltamos a ser donos de nossa vida, em detrimento das circunstâncias que nos rodeiam”, explica. Deixar-se levar pelo contexto reafirma a crença de que a situação nos supera e não nos deixa levantar. Assim, e ante as diversas possibilidades, talvez seja difícil ter essa determinação, mas a recompensa não vai demorar a chegar.
Esqueça a vida idílica dos outros 'instagramers'
Quanto maior a insatisfação pessoal, menor a autoestima e maiores serão as dúvidas sobre a estabilidade do casal, além de mais purpurina nas publicações do Instagram e no Facebook. Várias pesquisas indicam que as pessoas inseguras tendem a buscar mais a aprovação alheia nas redes sociais. Nem sempre conseguem. De fato, segundo um estudo da Universidade de Brunel (Reino Unido), “como as publicações das pessoas com baixa autoestima no Facebook são mais negativas, elas são percebidas como menos simpáticas e recebem menos likes”. Outra pesquisa indagou sobre quais sinais de um muro do Instagram podiam ser indicadores de depressão. Essa relação com as redes sociais como espaço do qual sair fortalecido implica mostrar nossa melhor parte: a melhor comida, a melhor viagem, os sucessos, a vida social... Uma vitrine de felicidade que só nos faz, por comparação, sentir mais sozinhos. “Convém não se deixar levar por essas estampas tão perfeitas compartilhadas pelos demais e entender que, provavelmente, estejam edulcoradas e exageradas”, diz o psicólogo Jesús Matos. E acrescenta: “Assumir como certa essa vida idílica dos demais frente à nossa existência, não tão prazerosa e invadida por esse sentimento de solidão, fará você ficar comparativamente em pior posição.” Uma armadilha que, segundo os especialistas, é melhor evitar. “As redes sociais podem nos abrir novas vias de conexão com os demais”?, reflete Cacioppo. E responde: “Depende de como sejam usadas. Quando usamos as redes para enriquecer as interações pessoais, elas podem ajudar a diminuir a solidão. [...] Infelizmente, muitas pessoas sozinhas tendem a considerar as redes sociais como refúgios relativamente seguros para se relacionar com os demais”, mas geram relações superficiais que não podem substituir as da vida real.
Viaje sozinho (e, melhor ainda, fazendo voluntariado)
Viajar te levará de forma espontânea a falar com outras pessoas, a enfrentar novas situações que te fortaleçam como o animal social que é por natureza. No caso do voluntariado, a viagem ganha um componente solidário que trará um ingrediente satisfatório adicional, e “o fato de trabalhar com outras pessoas num objetivo comum facilitará a tarefa de socialização com os outros”, diz o psicólogo Jesús Matos.
Adote um cachorro (é sério)
Não deixa de ser outra forma de socializar. Sentir-se fundamental para outro ser vivo te ajudará, primeiro, a derrubar inseguranças, dizem os especialistas. No caso de um cão, a obrigação de sair para passear é um motor de relações sociais. “De novo, com um tema contextual compartilhado para conversar, será mais simples ter uma conversa com as pessoas que você verá assiduamente e que mitigarão a sensação de solidão”, completa Matos.
Escreva e dê asas à imaginação
Como diz um provérbio chinês, “se escuto, esqueço; se vejo, recordo; e se escrevo, entendo”. Que seja para plasmar seus sentimentos ou o que quiser, mas pegue a caneta. A vertente terapêutica da escritura, demonstrada numa infinidade de estudos científicos, é uma arma poderosa também nesse sentido. “Escrever ou desenhar sobre o papel um desejo para si mesmo ou para os seres queridos é uma porta de saída da solidão”, afirma a psicóloga Lecina Fernández. Ela aposta nessa segunda ação, a de criar sonhos para os demais. “Em meu estudo ¿Qué es la ilusión? (O que é a ilusão?), pudemos determinar que 93% dos espanhóis associam o desejo positivo aos demais, sendo esse, provavelmente, o polo radicalmente oposto à solidão e aos sentimentos que ela provoca”.
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Alejandro Tovar é jornalista
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