Tudo está conectado: como a crise climática já atinge a nossa saúde (2)
Tudo está conectado: como a crise climática já atinge a nossa saúde ( 2)
Atualidade
O que é saúde planetária e por que precisamos falar mais dela?
Em novembro, o Brasil recebe a COP30, a principal conferência internacional sobre mudanças climáticas, que pela primeira vez acontecerá na Amazônia — mais precisamente em Belém, capital do Pará, estado cuja população já é bastante afetada por problemas como queimadas, secas e desmatamento.
Diversas entidades, incluindo o próprio Ministério da Saúde, estão se movimentando para levar ao evento a voz da saúde planetária, ideia que virou um campo da ciência cujo pontapé inicial foi dado com uma publicação no renomado periódico The Lancet em 2015.
Neste texto, ela foi descrita como “uma nova ciência para uma ação extraordinária”. Ou seja, desde o início algo nada apocalíptico, mas, sim, motivador. Para propor soluções, se encara o desafio de unir áreas do conhecimento que antes pouco conversavam, o que os acadêmicos chamam de transdisciplinaridade.
Agrônomos, enfermeiros, médicos, biólogos, veterinários, engenheiros… Está todo mundo convidado a embarcar nessa. “Falamos de crises simultâneas, que se retroalimentam e impactam a saúde, o clima, a a biodiversidade, o cultivo de alimentos”, explica o engenheiro e agrônomo Antonio Saraiva, do Instituto de Estudos Avançados da USP, um dos principais nomes por trás da disseminação do conceito.
Ele alerta para o fato de que o mesmo progresso tecnológico que nos fez viver mais e melhor no último século ampliou nossa capacidade de arruinar o planeta.
Os problemas na produção de alimentos
Comecemos pelo uso do solo. A expansão agrícola, propiciada por diversos avanços técnicos, hoje é responsável por 75% das emissões de gases de efeito estufa, aquelas que elevam a temperatura global, no Brasil.
O calor é apenas uma das repercussões. “A forma como o solo é utilizado afeta a disponibilidade de água na superfície e nas áreas subterrâneas”, aponta o aponta o engenheiro ambiental Tasso Azevedo, coordenador do MapBiomas, que avalia essas mudanças à flor da terra.
Não à toa, o Cerrado, bioma vital para os rios do país e para o agronegócio, está mais seco do que nunca. A perda chega a 31 piscinas olímpicas por minuto, calculou o trabalho Cerrado, o Elo Sagrado das Águas do Brasil, da Ambiental Media.
Isso não só se reflete nas torneiras das cidades, mas, também, no fogo que afeta animais e humanos — como o Brasil comprovou respirando as partículas tóxicas emitidas pelas queimadas no ano passado.
Embora soe “pop”, o avanço agropecuário tem um prazo de validade, na visão dos especialistas. “A maneira como se produz hoje é inviável economicamente e já temos dados comprovando essa tendência”, afirma o sociólogo Arilson Favareto, professor da Cátedra Josué de Castro, da USP. Sim, podemos chegar a um ponto de não retorno — em vários sentidos.
Inclusive, já se chegou a um deles.
Em outubro, uma força-tarefa de 160 cientistas comunicou que o mundo atingiu seu primeiro ponto de não retorno climático: a morte em massa dos recifes de corais causada pelo aquecimento do oceano.
Algo que afeta centenas de milhões de pessoas que dependem do mar para viver, e as outras bilhões que vivem no planeta, já que o mar presta serviços ambientais importantes, como a produção do oxigênio que respiramos e a absorção da maior parte do calor excessivo na atmosfera.
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https://saude.abril.com.br/ecossistema/crise-climatica-e-saude-planetaria/
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