Chegou o momento, na trajetória evolutiva de certos seres...
... Éramos um grupo de indivíduos que fazíamos o caminho espiritual com fidelidade e
persistência, convivendo harmoniosamente havia muitos anos, quando começamos a
ser instruídos no sentido de realizar um trabalho voltado para a liberação da matéria.
No passado, algumas filosofias espirituais indicavam o repúdio ao mundo externo
como requisito para a ascese, mas nessa proposta que nos era apresentada por vias
intuitivas, a necessidade não era negar a matéria. Caber-nos-ia colaborar com a
elevação da vida em todos os níveis da existência.
Percebíamos, ao receber esse chamado, que tal colaboração requeria um
relacionamento sutil entre a consciência do ser, a energia e a matéria. Tornava-se,
então, imprescindível para nós romperem-se as fronteiras que mantém estanques as
diferentes expressões da vida. Sabíamos que tal unificação dos diversos níveis da
existência favorece o estabelecimento de uma percepção do cosmos mais ampla e real.
Tratava-se, pois, de um desafio, de um salto no desconhecido, e de uma grande
oportunidade de desenvolvimento espiritual para todos nós.
Além disso, tornava-se claro que a exteriorização da energia interna deveria ganhar
uma dinâmica condizente com a necessidade de na Terra futura surgir uma nova
civilização. Para ajudar a prepará-la estávamos sendo convidados, certos de que outros
seres, em vários níveis de consciência e em várias regiões do mundo, também se
empenhavam nisso.
Segundo o que nos fora inspirado, a todos os que se dedicam a essa tarefa é proposto o desapego do que foram, do que são e do que pretendem ser. É preciso que vivam, por inteiro, o momento presente. Não o momento presente do eu pessoal, mas o de uma realidade maior, que transcende o âmbito humano e tudo o que se conhece. Não
deveria ficar pedra sobre pedra para que a vida como um todo fosse divinizada. Só
assim, iniciando-se a partir das bases, esse trabalho não ficaria limitado a uma
renovação temporária; e a verdadeira realidade poderia, então, manifestar-se nos níveis
externos sem encontrar empecilhos.
Para nós que aceitávamos o convite de, no grau que fosse possível, permitir que o
nosso viver se imbuísse da energia da civilização que deverá despontar no futuro, a
necessidade de traspassar limites era urgente. Ao aderirmos incondicionalmente a esse
convite, íamos percebendo que a ruptura de hábitos arraigados é uma porta para a
libertação dos homens, e que o Plano Evolutivo (1), apesar de sua intrínseca
generosidade, já não poderia ser complacente com as cristalizações que, mesmo
involuntariamente, os que se dispuseram a executá-lo ainda trazem em si.
O que se passava conosco e o que se passa com muitos seres pioneiros está ligado à
oportunidade, oferecida nestes tempos, de desvincularmo-nos da regência do Carma
material (2). O fogo divino está se revelando aos destreinados e imaturos corpos e
núcleos de consciência de tais seres. Ainda que em certos momentos se ressintam da
ação desse fogo, ainda que se retraiam, inseguros diante dela, a matéria que os compõe
precisa ser curada. Mas essa matéria pode não ter clareza de que sua cura virá do toque
desse fogo superior, e não do que é convencional, do que é aceito e valorizado por esta civilização. Cabe a cada um discernir e acolher aquilo que necessita para sua ascensão.
Embora o que se observe externamente seja o veloz agravamento da crise planetária,
os homens estão sendo agraciados com sucessivas oportunidades de crescimento e de
transformação. Nessas oportunidades, fatos materiais e sutis complementam-se: muitas
vezes as mudanças externas são reflexos de processos interiores, e em outros casos
servem como instrumentos para que deslocamentos internos se efetivem.
Estávamos cientes, por experiência, de que as transformações não podem ocorrer na
intensidade requerida enquanto expectativas e preconceitos, acumulados ao longo de
vidas, não são removidos. Víamos ser a hora de deixarmos realmente que a energia
trabalhasse por nosso intermédio, e de não mais atuarmos conforme nossa própria e
limitada perspectiva de vida espiritual.
(1) Plano Evolutivo. Conjunto de diretrizes segundo as quais a manifestação de um
Universo deve realizar-se. Essas diretrizes são expressas por consciências elevadas que
conduzem a evolução daquele universo.
(2) Lei do Carma material. Lei de causa e efeito que rege a manifestação concreta da
vida deste Universo planetário.
A matéria está sendo permeada por vibrações poderosas, que a estão transmutando em
sua essência para libertá-la da pesada carga psíquica presente no planeta. As respostas
às oportunidades que estão sendo apresentadas nesta época dependem da vigilância, da
prontidão e da abertura de cada ser. No caso de alguns, uma das maneiras pelas quais
essas vibrações atuam é uma silenciosa interação com a sua essência interna
possibilitando que se realizem transformações profundas, e não apenas mudanças
superficiais. Víamos que, para facilitar que tal metamorfose se desse em toda a Terra
mais rapidamente, seria preciso que os grupos de serviço tivessem em vista a meta a
que devem chegar, percebessem a necessidade planetária antes mesmo que se tomasse
explícita, e estivessem prontos para ir ao seu encontro. Para isso nos abríamos.
Uma potente energia cósmica presente na órbita da Terra, precisa de mais espaço para
agir dentro e fora dos indivíduos. Essa ampliação consuma-se quando há ação - como
resposta definida e clara ao que se passa nos planos internos - bem como um despertar incondicional da consciência, uma sintonia cristalina com algo supremo que fala por muitos sinais, nem sempre palpáveis. Portanto, deve emergir na humanidade outro nível de interação com a realidade terrestre e cósmica, fato a ser expresso não por meio de palavras, mas por autêntica vivência, e a ser assumido não por seres isolados, mas por um contingente poderoso o bastante para promover a transformação de estruturas cristalizadas da civilização moderna. Para que esse contingente seja formado, o mais importante não é o número de indivíduos que o irá compor, mas a firmeza de cada um deles.
Chegou o momento, na trajetória evolutiva de certos seres, no qual conscientemente
podem favorecer processos de mutação interna da vida material, não só deles em
particular, mas também dos seus semelhantes e de todo o planeta, pois tudo que existe
está interligado, sujeito às leis de unificação. A decisão de abrir-se para essa cura
profunda em geral coincide com períodos de grande tensão interior; são etapas de uma
iminente absorção dos núcleos do ser em energias imateriais, o que pode ser facilitado
se leis evolutivas forem observadas.
Todavia, esses seres têm de estar preparados para não querer amenizar a ação da cura
espiritual sobre si. Tanto quanto possam, têm de deixar que ela atue sem que lhe
imponham quaisquer limites, e estar desprendidos da dor e do sofrimento que
porventura advenham desse processo regenerador.
O que ocorria conosco ao abrirmo-nos para essa tarefa era como a afinação de um
instrumento, que tem cada uma de suas cordas estirada na correta medida. Elas podem
receber auxílios, como o toque das mãos do músico, mas tais auxílios não devem
interferir no trabalho que nelas está sendo feito; pelo contrário, levam-nas mais
rapidamente à tensão almejada e sadia, e cuidam para que não se afrouxem.
Com essas idéias presentes entregamo-nos à transição que nos era dado viver.
Sabíamos que a consciência humana está evoluindo, e que o modo de instruí-la evolui
também.
Do livro: "A Cura da Humanidade" - Trigueirinho
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