A felicidade duradoura é encontrada apenas além deste mundo material, e precisamos criá-la bem no fundo de nosso coração.
Texto extraído do Jornal Peace Times: Uma reflexão sobre o Amor.
Lama Michel Rinpoche
Nós frequentemente usamos a palavra amor ou nos referimos a esta emoção, sem saber exatamente o que significa; quando este sentimento brota espontaneamente, nós podemos procurar por todas as palavras imagináveis para descrevê-lo, mas elas nunca serão suficientes.
Quando as emoções surgem, raramente são puras – nunca é uma questão apenas de amor, compaixão, generosidade, raiva, ciúme ou inveja, pois internamente as emoções estão misturadas, sem que ao menos estejamos conscientes disso. Por exemplo, podemos perceber o amor misturado com um pouco de desejo, medo, ciúme ou posse.
Primeiro, é importante ter clareza sobre o que nossos sentimentos efetivamente são, para sermos hábeis em reconhecer e distingui-los, abrindo cada vez mais espaço para os sentimentos positivos e reduzindo os destrutivos.
É dito que o amor é o mais belo de todos os sentimentos. Mas o que é o amor? È o simples desejo de que a outra pessoa seja feliz. No amor verdadeiro não há expectativas: nós desejamos que a outra pessoa seja feliz independente de onde e com quem ela escolha estar.
O budismo fala de diversas formas de amor, incluindo o “amor simples” e o “grande amor”. Normalmente, amamos alguém que faz alguma coisa boa para o ‘eu’ ou ‘o meu’ ( ...minha família, meus amigos, meus ideais, minha religião, meus bens materiais, etc. ). Esta é uma maneira simples e limitada de amar.
No momento em que podemos enxergar a outra pessoa independente de nós mesmos, ou seja, sem considerar o que ela significa para o ‘eu’ ou o ‘meu’, nós amamos de uma maneira ampla e ilimitada. O amor verdadeiro é equânime, nós amamos cada um da mesma maneira.
As duas formas de amor podem ser ativas ou passivas. Quando desejamos a felicidade de alguém, mas nos sentimos incapazes de fazer alguma coisa para ajudá-lo, temos o Amor passivo. De forma contrária, quando desejamos a felicidade para alguém e fazemos todo o possível para ajudá-lo, isto é o que consideramos Amor ativo.
Antes de amar alguém, temos que amar a nós mesmos, o que significa termos clareza sobre o que realmente queremos e fazermos um esforço para conseguirmos isso. Normalmente, procuramos pela felicidade nas coisas que nos rodeiam, nos prazeres sensoriais, nos bens materiais e na nossa imagem. Infelizmente, nenhum destes aspectos tem a base para sustentar uma felicidade duradoura, e, por esta razão, no final estamos sempre infelizes e insatisfeitos. Nós apenas criamos ilusões contínuas de felicidade.
A felicidade duradoura é encontrada apenas além deste mundo material, e precisamos criá-la bem no fundo de nosso coração. É um estado mental no qual nos sentimos bem conosco mesmos, com satisfação e alegria profundas, independente de qualquer situação externa.
Desejar esta felicidade, ou seja, este estado de pacificação interna de conflitos, é o que chamamos de renúncia, que deveríamos entender como renúncia ao sofrimento.
O amor mais bonito é aquele que realmente desejamos que o outro seja feliz e livre de qualquer forma de sofrimento.
Não existe ninguém que não tenha amor dentro de si, precisamos apenas procurar por ele, nutri-lo e mantê-lo vivo!
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