Qual a missão do Espírito protetor?
Como nos ajuda nosso anjo de guarda
por: Cristina Helena Sarraf
490. Que se deve entender por anjo de guarda ou anjo guardião?
"O Espírito protetor, pertencente a uma ordem elevada."
491. Qual a missão do Espírito protetor?
"A de um pai com relação aos filhos; a de guiar o seu protegido pela senda do bem, auxiliá-lo
com seus conselhos, consolá-lo nas suas aflições, levantar-lhe o ânimo nas provas da vida."
501. Por que é oculta a ação dos Espíritos sobre a nossa existência e por que,quando nos protegem, não o fazem de modo ostensivo?
"Se vos fosse dado contar sempre com a ação deles, não obraríeis por vós mesmos e o vosso Espírito não progrediria. para que este possa adiantar-se, precisa de experiência,adquirindo-a freqüentemente à sua custa. É necessário que exercite suas forças, sem o que, seria como a criança a quem não consentem que ande sozinha. A ação dos Espíritos que vos querem bem é sempre regulada de maneira que não vos tolha o livre-arbítrio, porquanto, se não tivésseis responsabilidade, não avançaríeis na senda que vos há de conduzir a Deus.
Não vendo quem o ampara, o homem se confia às suas próprias forças. Sobre ele, entretanto, vela o seu guia e, de tempos a tempos, lhe brada, advertindo-o do perigo."
O Livro dos Espíritos, Allan Kardec, parte 2ª - capítulo IX
A idéia consoladora de termos um anjo de guarda, ou seja, um Espírito de maior elevação que nos escolheu para proteger e guiar, é realmente um bálsamo nos momentos de insegurança e dor, bem como nas horas difíceis. Conta-se com alguém que, incondicionalmente, nos apóia.
Dá o que pensar, sobre quantas e quais são essas benesses que chamamos de providência divina, produzidas pelos bons e elevados Espíritos, redistribuindo a solidariedade e a cooperação entre todos os seres. Talvez por isso, tenha nascido a idéia de que Deus é Amor...
Aos nossos olhos terrestres, condicionados pelos parâmetros das provas e expiações, é como se existisse uma organização natural e abrangente, na qual, cada um, segundo suas possibilidades, advindas do progresso já realizado, tem como colaborar com os que ainda não percorreram esse caminho; ao mesmo tempo, está também trabalhando características suas que precisam de desenvolvimento e ajuste, e recebe colaboração dos que estão mais adiantados, nesse infinito caminho evolucional.
É uma visão de vida muito bela...
Saindo da inconsciência e caminhando para a consciência cada vez mais amplificada, passamos e passaremos por inúmeras etapas e em cada uma, nosso entendimento sobre a vida é conforme as condições e possibilidades pessoais. No caso desse Espírito, chamado de anjo de guarda, o entendimento humano tem variado muito, embora ainda predomine a idéia de que ele interfira em nossas decisões e opções ou nas de outra pessoa, por quem pedimos ajuda.
Pensar que essa interferência existisse, quando tínhamos conceitos filosóficos compatíveis com a idéia de que alguém decide ou age por nós, era coerente. Mas já não é, quando adotamos a filosofia espírita, cujas bases incluem a lei do Livre Arbítrio. E se as leis humanas se provam pelas exceções, as divinas não as incluem, ou deixariam de ser divinas...
É hora de se reciclar esse pensamento.
Se lermos a resposta á pergunta 491 de O Livro dos Espíritos, elaborada por Kardec, com olhos não espíritas, faremos a leitura tradicional, de que esse Espírito participa de nossos atos e os redireciona. Porem, para que esse raciocínio seja completo, precisamos também pensar que sua ação depende de pedirmos, ou seríamos robôs, manipulados pela vontade dele.
Caímos assim, na equivocada noção de que se nos comportarmos bem, se formos "bons meninos", ele atenderá nossos pedidos, principalmente se forem reiterados com insistência. Assim, onde fica nosso livre arbítrio e o de nosso anjo de guarda? Seria possível, que apesar de sua superioridade, nós o dobraríamos pela insistência? Ou será que sua superioridade o faz temperamental e precisamos nos desdobrar em pedidos, para que se sinta suficientemente adulado e se digne a nos ajudar?
O Espiritismo nos ensina que os Espíritos superiores a nós já passaram pelas nossas fases evolutivas e não possuem mais as paixões e complicações humanas. Portanto, sua conduta diante de nós é diferente da nossa. E poderia igual?
No entanto, se a leitura da questão 491 e das demais, não for isolada e nem condicionada, perceberemos que na de número 495, assinada por São Luiz e Santo Agostinho, há um diálogo figurado, apenas motivacional, que não pode ser considerado factual, pois implicaria em cobranças e lamentos; e nas demais, os raciocínios vão sendo montados para entendermos que colaborar, ajudar e inspirar não é interferir, como fica muito claro na de número 501.
Em nosso nível evolutivo confundimos colaborar com interferir. Somos invasivos e intrometidos e queremos conduzir as situações e pessoas para o que desejamos e "achamos" ser bom. Mesmo já sabendo que não é esse o caminho certo, não agüentamos a pressão do orgulho e das necessidades. Essa também é a conduta dos Espíritos levianos, malévolos e obsessores, mas não a dos bons, elevados e anjos de guarda; estes já aprenderam a respeitar nossos limites atuais, sugerir uma boa idéia e esperar nosso amadurecimento.
Outro aspecto a ser revisto é quanto a forma de nosso guardião nos atender. Algumas pessoas consideram que sendo superior, esse Espírito já sabe dos nossos problemas e por isso, não precisamos pedir. Outras pensam que se pedirmos, ele nos atende. Mas, o que significa esse atender? Seria realizar nosso pedido? Seria no dar o que queremos? E se esse querer for contra nós mesmos, fato não percebido pela inexperiência? Por outro lado, se pedimos e ele faz por nós, onde fica nosso arbítrio e como poderemos adquirir habilidades e competência? Seremos sempre e eternamente dependentes? Mas como Esse espírito evoluiu a ponto de ser um protetor, se dependemos de um guardião? Ou esses Espíritos, como dizem algumas religiões foram criados de forma especial?
Certamente não pode ser dessa maneira. Esse atender é de outro modo...
Há também a muito divulgada idéia de que nosso anjo de guarda nos fortalece, e fortalecidos conseguiremos enfrentar as dificuldades da vida. O pensamento é formulado assim: nós oramos, pedimos, e ele nos fortalece o ânimo, as forças e nos dá energias e intuições.
A questão a ser levantada agora, é quanto ao dar. É dito que ele nos dá... Como pode ser isso? Como um Espírito pode nos dar algo, se somos também Espíritos e tudo que temos é fruto de nós mesmos? E como ele poderia nos dar algo? Nesse caso, não haveria injustiças e privilegiados, cujos anjos de guarda dotariam de mais coisas que os demais?
Porem, se pensarmos que ele nos inspira, ao invés de dar, então é possível fazer um raciocínio espírita lógico, entendendo que se, pela própria vontade, dermos acesso a essas inspirações, elas nos motivam e motivados despertamos nossas forças caídas e restauramos nossas energias. Nós é que fazemos nossa melhoria, pelo estímulo vindo de alguém mais elevado e que nos quer bem. Até porque, aceitamos contatar com ele, que sendo superior tem melhor qualidade fluídica, com a qual nos impregnamos,nesse contato.
Então, ele não dá nada, mesmo que peçamos; não essa sua conduta conosco. Mas a prece, que não precisa e nem deve ser um peditório, nos aproxima dele pela nossa vontade e desse contato, no qual nos pusemos, saímos fortalecidos; e isso, na medida em que estivermos aptos e abertos á essa aproximação. É semelhante a um palito de fósforo que se acende num ambiente escuro; nós o acendemos e ele nos permitirá distinguir os objetos. Se for um palito pequeno, veremos por pouco tempo, mas já sabemos o que há nesse local. Se for um palito maior, demorará mais tempo iluminando e poderemos ver mais coisas. No entanto, se não acendermos o fósforo, sua luminosidade continuará oculta nele.
Raciocinar assim, não fere as leis universais, que são Princípios do Espiritismo, com as quais estamos montando esse estudo: Evolução dos Espíritos, Livre Arbítrio, Influência oculta dos Espíritos em nossa vida e lei das Consequências Naturais, mais conhecida como Causa e Efeito. Leis essas que trazem um significativo diferencial, na medida em que estabelecem que sendo Espíritos individualizados, nós mesmo é que promovemos nossa evolução, que é feita em micro detalhes íntimos de sentir, pensar e agir. O que recebemos de fora, seja de encarnados ou desencarnados e as dificuldades inerentes á vida, são os estímulos que podem nos mover, quando nos sentimos necessitados e ?caem as fichas?.
O uso das palavras tem muito peso em tudo. Se repetimos formas de dizer, padronizadas pelas religiões, estaremos nos mantendo no mesmo conceito, que já é um costume. O Espiritismo põe um diferencial nesses conceitos, mas para que eles substituam os antigos, precisamos, alem de entendê-los, o mais possível isentos de interpretações, usar as palavras de modo coerente com esse novo entendimento. Esse cuidado favorece a mudarmos de hábitos e colabora, quando falamos com outras pessoas, para que elas façam uma idéia diferente em relação ao assunto tratado. Mas, se repetimos palavras e modos de dizer, mesmo querendo imprimir uma mudança conceitual, através de muitas explicações, não conseguiremos, porque as pessoas nos ouvem ou lêem com o que têm dentro de si. Caso sejam respeitosamente conduzidas a raciocinar de outra maneira, aí sim, uma porta pode se abrir e elas poderão formar uma idéia nova. Por exemplo, dizendo que só pedidos de pessoas de bom comportamento são atendidas e que nosso anjo nos dá o que pedimos, contribuiremos para a manutenção de preconceitos e entendimentos de pé quebrado.
Como, então, nos ajuda nosso anjo de guarda?
Sendo um Espírito mais elevado, e compromissado com nossa vida, sempre nos emite benesses mas, envoltos nas coisas do dia-a-dia, precisamos de momentos específicos de atenção a esse vínculo e de nos voltarmos para ele. Fazendo isso, nos impregnamos com seus fluidos que são benéficos para todo nosso sistema físico e perispiritual, e facilitamos a captação de inspirações, que só dependem de nós para serem percebidas.
Nenhum Espírito pode nos dar ou tirar condições boas ou más, sejam energéticas, emocionais, fisiológicas e espirituais. O que podem e fazem, é estimular-nos alguma idéia ou sensação ou sentimento, que já temos; e nós, aceitando isso, movemos algo internamente e emanamos fluidos, que servirão para que nos ajudem ou atrapalhem. As condições íntimas que temos são nossas e invioláveis, se não dermos acesso a ninguém. Mas se dermos, pela vontade, pelos pensamentos que emanamos, por buscar ajuda, por desespero, então podem nos manipular se forem mal intencionados...
Essa é a razão da necessidade de elevarmos o pensamento em prece, ou em estado de prece, por ser uma ação voluntária e consciente do contato que estamos fazendo com nosso amigo guardião.
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