RAMATÍS:: O espírito do homem só alcança a sua definitiva libertação num momento de súbita violência, em que, dominado por sublime impulso, então, rasga o véu da vida ilusória da animalidade
RAMATÍS
PERGUNTA: - E que se deve entender, ainda, pelo conceito de que o "reino dos céus é tomado pela violência e são os violentos que o arrebatam"?
RAMATÍS: - Evidentemente, Jesus não poderia ser entendido pelos homens rudes de sua época messiânica, quanto ao conteúdo esotérico dos seus ensinamentos morais e científicos. Mas o homem do século XX, que já alcançou o controle de inúmeras forças ocultas poderosas, como a energia nuclear, inclusive o domínio de computadores e robôs e, ultimamente, a conquista da Lua, então, já pode aperceber-se da contextura esotérica da maioria dos textos evangélicos. Na época de Jesus, a materialidade dominava francamente, e o espiritualismo eivado de superstições e ritos fatigantes, só comprovava certa autenticidade, através de alguns iniciados mais perseverantes, que sabiam a verdade de que o animal se transforma em homem, e o homem se sublima em anjo.
Jamais o Divino Mestre seria entendido e levado a sério, caso pretendesse exigir do seu povo a mesma interpretação que hoje pode ser acessível ao homem moderno e enriquecido pelo conhecimento técnico e científico da vida humana. "O reino dos Céus é tomado pela violência e são os violentos que o arrebatam", cujas palavras de Jesus aludiam mais propriamente a um acontecimento específico de conversão ou metamorfose espiritual. Isso é fruto de uma decisão inexorável, que só acontece às criaturas espiritualmente preparadas e decididas a romper os liames inferiores, que ainda prendem o seu espírito às paixões e aos vícios gerados na imantação ao corpo físico. O espírito do homem efetua a sua ascensão lenta e demoradamente, vivendo estágios espirituais que o preparam, através das vidas carnais educativas. Mas, comumente, ele só alcança a sua definitiva libertação num momento de súbita violência, em que, dominado por sublime impulso, então, rasga o véu da vida ilusória da animalidade. Lembra a flor que, depois de um longo período de gestação à luz criadora do Sol, entreabre-se de chofre, sem quaisquer etapas graduáveis.
O conceito evangélico em exame, lembra também o sentido de todos os empreendimentos e criações, que após vencerem demorados períodos preparatórios e de amadurecimento interior, então, eclodem em sua etapa final num arremesso súbito e violento. O espírito do homem também desperta e desenvolve-se, vida por vida, através da concentração íntima da síntese dos experimentos educativos, que efetua nos mundos físicos, e são os ativadores da maior amplitude da consciência sideral.
PERGUNTA: - Mas não é de senso comum que a natureza não dá saltos?
RAMATÍS: - Assim como o animal pressente e desconfia, quando a presa se move para fugir-lhe das garras, as paixões e os vícios também enlaçam sub-repticiamente o homem, cada vez que ele intenta safar-se de seu domínio negativo. É preciso, então, que a vítima mobilize todas as suas forças positivas e, num lance arrebatador, rompa os laços vigorosos da animalidade. Quase todas as conversões santificadas de almas pecadoras famosas, ou de ricos optando pela pobreza libertadora, foram sempre produtos de uma decisão súbita, heróica e violenta. Lembra algo semelhante ao prisioneiro que rompe violentamente as grades do cárcere e empreende a fuga surpreendente. Embora esses teimosos tenham nutrido, lentamente, em sua alma, a sublime transformação que depois concretizam, o certo é que a metamorfose final processa-se de modo instantâneo, impetuoso e violento, justificando o conceito de que "o reino dos Céus foi tomado pela violência, porque são os violentos que arrebatam os Céus".
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Nota do Médium - Realmente, basta lembrarmos três conversões históricas que podem nos servir de estimulo e paradigma reflexivo, quando Maria de Magdala converte-se, subitamente, ao Amor de Jesus; Saulo transforma-se, em alguns segundos em Paulo, na estrada de Damasco; Francisco de Assis despoja-se dos bens e tesouros do mundo. Aliás, o príncipe Sakia Muni também se desvencilha, violentamente, das riquezas do seu principado.
Apesar do bom senso e aforismo popular de que "a natureza não dá saltos" e que, em seu curso, desperta, cresce e aperfeiçoa-se a forma, lenta e gradativamente, toda vez que se verifica uma transformação rápida e benfeitora, no cenário do mundo, é notório estar a violência operando o fenômeno. Quando o próprio mundo acusa, em sua atmosfera, o acúmulo de emanações mefíticas e perigosas, proveniente das transformações de matérias deletérias ou poluição do ar, a tempestade inicia o seu curso lento e silencioso, mas, de súbito, rompe violenta entre trovões e relâmpagos, a fim de exercer rapidamente a sua ação purificadora.
DO LIVRO: "O EVANGELHO À LUZ DO COSMO" RAMATÍS/HERCÍLIO MAES - EDITORA DO CONHECIMENTO.
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