( Parte 2 ) Os gráficos, mapas e fotos que mostram a morte lenta da Amazônia e por que o mundo deveria se preocupar
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Organizações de conservação ambiental afirmam que até 20% da floresta amazônica foi perdida e uma área semelhante foi degradada devido a atividades humanas, incluindo agricultura, pecuária, exploração madeireira e mineração – e também agora devido à seca induzida pelas mudanças climáticas e ao aumento das temperaturas.
O último pico de desmatamento ocorreu em 2022, quando quase 20 mil km² de floresta foram desmatados, um aumento de 21% em relação a 2021 e o pior ano desde 2004, de acordo com o Programa de Monitoramento dos Andes e da Amazônia (MAAP) da Amazon Conservation.
Após a mudança de governo no Brasil em 2023, a taxa de desmatamento na Amazônia brasileira caiu imediatamente pela metade – embora não em regiões controladas por outros países – e o mundo comemorou.
Mas logo se descobriu que partes da Amazônia sofreram danos graves dos quais podem não se recuperar.
Isso não é apenas produto de anos de desmatamento, mas também da crise climática, que está surgindo como uma nova ameaça ao ecossistema amazônico.

Um aumento significativo na temperatura e episódios prolongados de seca impactaram seu funcionamento básico, tornando a floresta, geralmente úmida, mais seca e mais suscetível a incêndios florestais.
Em setembro de 2024, por exemplo, havia 41.463 focos de incêndio na Amazônia brasileira – o maior número para aquele mês desde 2010, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).
"Estamos vendo um aumento na incidência de secas e incêndios, o que levou a uma maior degradação em diversas partes da Amazônia", afirma Paulo Brando, professor especialista em captura de carbono em ecossistemas da Universidade de Yale, nos Estados Unidos.
"Essa degradação em diferentes áreas está se tornando uma grande ameaça para a Amazônia."
'Rios voadores' interrompidos
Eis como surge o problema. A gigantesca região amazônica possui sistemas climáticos internos: suas florestas fazem circular a umidade do Oceano Atlântico, criando o que é conhecido como "rios voadores" no céu.
Esses rios atmosféricos primeiro despejam chuva na parte leste da Amazônia, perto do Atlântico. A água então sobe novamente para o ar, do solo e da vegetação (através de um processo de evapotranspiração), e se move mais para oeste antes de cair em outra área da floresta tropical.
Essa circulação de água de uma área da floresta tropical para outra acontece por toda a Amazônia e explica em parte como a vasta floresta tropical prosperou.

Mas essa circulação de umidade, alertam os especialistas, foi interrompida.
Áreas da Amazônia que foram desmatadas e degradadas não conseguem circular adequadamente a umidade do oceano e, como resultado, muito menos umidade retorna à atmosfera por meio da evapotranspiração.
"Os mini-sistemas meteorológicos que circulavam a umidade e que estavam interconectados por toda a Amazônia agora estão rompidos", diz Matt Finer, cientista da Amazon Conservation e coautor de um relatório recente sobre o papel dos rios voadores e o destino da Amazônia.
A região mais afetada é a Amazônia Ocidental, a mais distante do Atlântico, diz ele, particularmente o sul do Peru e o norte da Bolívia.
"A sobrevivência das florestas tropicais no Peru e na Bolívia depende, na verdade, de florestas intactas no Brasil, a leste, já que, se essas florestas forem destruídas, o ciclo da água que cria os rios voadores é interrompido e não consegue chegar à Amazônia Ocidental. Está tudo interligado."
Esse problema é particularmente grave na estação seca, de junho a novembro.

A floresta tropical úmida e chuvosa era, no passado, altamente resistente a incêndios florestais, mas em áreas que sofreram com a falta de chuvas, essa resistência está diminuindo.
Alguns cientistas temem que o ecossistema da floresta tropical, que está secando, esteja atingindo um ponto de inflexão ou "de não retorno", do qual não conseguirá se recuperar e se perderá para sempre.
"Esses são os primeiros sinais de ponto de inflexão que estamos vendo em algumas partes da Amazônia", diz Finer.
Erika Berenguer, pesquisadora sênior do laboratório de ecossistemas da Universidade de Oxford, concorda que o risco está aumentando, mas, assim como Finer, afirma que algumas áreas são mais afetadas do que outras.
"É um processo muito lento que está acontecendo em certas partes", diz ela.

Menos circulação de água nos céus da Amazônia significa não apenas uma floresta menos saudável, mas também um enorme impacto na Amazônia e em seus muitos afluentes, dizem os especialistas.
Vários rios na bacia amazônica registraram níveis de baixa recordes nos últimos anos, e 2023 foi marcado pela pior seca em 45 anos.
As condições de seca em 2023 e no primeiro semestre de 2024 foram desencadeadas em parte pelo El Niño — um sistema meteorológico natural em que as temperaturas da superfície do mar aumentam no Oceano Pacífico oriental, afetando os padrões globais de chuva, particularmente na América do Sul.


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