Desconstruindo preconceitos
Desconstruindo preconceitos
por Camilo de Lelis Mendonça Mota
Há um discurso dominante nas mídias hoje em favor da eliminação dos preconceitos e que parece ser uma tendência para os dias futuros na construção de uma sociedade pautada na convivência pacífica das diversidades. No entanto, a vivência dos conceitos pré-concebidos é incrivelmente arraigada nas consciências individuais e coletivas. Compreender o peso de cada uma dessas polaridades pode ser útil para nos situarmos enquanto indivíduos em busca de maior consciência de nós mesmos e do mundo que nos envolve.
A vida em sociedade é feita da construção de laços afetivos. É o afeto que molda o esquema das atrações mútuas, facilitando o florescimento daquela energia maior a que chamamos de amor. Tanto o amor quanto o afeto não nascem da razão, da objetividade e nem das concepções mentais que possamos ter construído ao longo da vida. Eles são fruto da sensibilidade humana. Quando abrimos a consciência para aceitar as sensações e as intuições que vêm de nossa psique profunda, passamos a compreender o quanto são limitados os conceitos construídos e arquitetados no plano egoico. Tais conceitos, no entanto, têm grande valor quando associados à esfera produtiva do conhecimento, quando, por exemplo, estão a serviço do paradigma científico, na pesquisa, na observação direta da realidade como experienciação. Mas também podem construir esquemas limitadores, criando amarras à própria evolução individual no plano dos afetos. É quando o conhecimento abre mão da clareza e se torna vítima das ideias preconcebidas, e o preconceito encontra vasto território para se alastrar.
Quando frequentamos as redes sociais na internet, a expressão das forças do preconceito e da aceitação da diversidade parece ser bastante intensa. Neste universo virtual, os extremos acabam se tocando e percebemos o quanto estamos alimentando velhas guerras e guerrilhas em favor de uma ou outra concepção de mundo. A barreira que na vida cotidiana é construída para esconder nossos defeitos (as várias personas que desenhamos para mostrar que somos pessoas socialmente aceitáveis à vista de todos), no mundo virtual fica transparente e até desaba de vez. Comunidades virtuais que propagam o ódio a isto ou aquilo, postagens de textos e imagens procurando reforçar o aspecto negativo de ter uma religião, ataques diretos à opção sexual são as pontas de um iceberg em que a sociedade vê refletida a sua própria Sombra.
Ao não compreender os próprios impulsos interiores, o indivíduo se deixa envolver numa teia de sentimentos e pensamentos que moldam ideias fixas, imagens consteladas que passam a servir de modelo explicativo, tornando-se muitas vezes os fios condutores da própria atitude de vida sem conexão com a verdade mais profunda de seu próprio ser. Neste contexto, os moldes criados pela doutrina religiosa reforçam a criação de todo tipo de preconceito. Na tentativa de libertar o homem das amarras limitantes do ego, acabam amarrando o próprio homem na falta de compreensão maior da diversidade das manifestações de sua própria individualidade, como no caso da sexualidade. Como gerar amor diante de uma atitude de preconceito? Da mesma forma, o olhar do não religioso (ou do ateu) sobre as manifestações religiosas também gera dificuldades para compreender o fator positivo que as várias "igrejas" representam no desenvolvimento da espiritualidade individual.
Ser religioso ou ser ateu, ser hetero ou ser homossexual, ser branco ou ser negro não são questões fundamentais para o estabelecimento e a construção dos afetos. Conduzir a vida a partir de um molde ou um rótulo é um risco à paz individual e coletiva. Olhar a própria Sombra e nela enxergar a própria limitação e os próprios potenciais são um caminho inicial para a construção de uma sociedade em que os preconceitos sejam realmente coisas de um mundo primitivo, que ainda estava descobrindo a profunda riqueza das diversidades culturais, existenciais, individuais, humanas, enfim
Camilo de Lelis Mendonça Mota
Terapeuta Holístico, Mestre de Reiki, Karuna Reiki, Terapeuta Floral.
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