Eu acredito em anjos!
I believe in angels!
Izabel Telles
Acordei muito inquieta, angustiada com o que tenho ouvido dos meus clientes: há uma questão meio que planetária tocando todas as pessoas: a comunicação entre elas. Pais não falam com filhos, filhos não falam com pais, maridos e esposas perderam a linguagem que os unia e quantos deles almoçam calados sem trocar uma só palavra durante as refeições. Seres leem jornais enquanto outros seres se retorcem no sofá em busca de atenção. E o diálogo não sai. E a conversa não flui. Com isso, estamos cada dia mais sozinhos, mais cada um no seu canto e a distância vai ocupando o espaço e os jogos eletrônicos e a TV vão roubando a cena. O celular virou o amigo com quem se “tecla” e o vazio vai sendo preenchido por comida, devorada ansiosamente por todos .
Nessa sociedade dividida onde um anúncio de hambúrguer é seguido por uma matéria jornalística sobre o colesterol; a foto da mulher que perdeu 50 quilos publicada na revista é seguida por um anúncio de chocolates faiscantes que dá água na boca e faz todo mundo sair correndo em busca do doce.
No nosso cotidiano a frase de cumprimentos foi substituída por:
- Como você emagreceu! (antigamente diríamos, por exemplo, -Como tem passado?)
- Está mais magra!
- Está a metade do que era!
E o que mais me angustia é que não dá para fazer nada. É olhar para isso tudo sentindo uma enorme impotência. Os seres humanos criaram seu espaço individual e dificilmente ouvem uns aos outros.
Bem, com esta questão em mente e angústia no coração, fui ao laboratório tirar sangue matutando que deve ser esta minha estrela da ordem que me impulsiona a querer pôr ordem no mundo (como se a minha ordem fosse a certa!).
Chego ao laboratório com 25 itens no pedido médico e feliz da vida digo à atendente.
- Ontem passei 45 minutos com uma colega sua ao telefone e já passei a ela todos os exames, de forma que ela garantiu que quando a senhora abrir o meu nome na tela todos os exames estarão escritos.
Ela me olhou com compaixão e retrucou:
- Isso não é verdade! A atendente não falou a verdade. Vou digitar novamente um por um.
Fiquei calada mas ela notou minha indignação comentando com o colega ao lado de sua baia:
- Mais uma que acredita que o pedido está na tela! O colega deu de ombros sem dizer nada.
Algo vibrou dentro de mim: lembrei-me das centenas de vezes que solicitei à Net para desligar a TV e do quanto eles me enrolaram… das mensagens mandadas ao meu celular insistentemente pedindo para eu voltar a ser cliente e de eu não conseguir falar com eles que eu não queria nunca mais ser cliente da Net e de ninguém mais que não respeitasse o diálogo com o consumidor.
Fiquei estranha, não sei dizer bem o que senti. Parecia que um tsunami crescia dentro das minhas entranhas e que minha pele estava sendo esticada além do limite suportável!
Quando entrei na sala de coleta, o enfermeiro disse que teria de tirar 25 tubinhos e precisava pegar uma boa veia. E não conseguia. Não conseguia. Pediu licença, saiu, e alguns minutos depois entrou um anjo negro, vestido de enfermeira, que me olhou nos olhos e disse:
- Vamos tirar os 25 tubinhos com a ajuda de Deus!
Pegou a veia do outro braço e começou a dizer que ela amava o filho dela, com o qual não tinha muita comunicação, mas que o amava e dizia todos os dias a ele que o adorava, amava, mesmo que ele estivesse longe dela e perto dos amigos na sombra das ruas.
E me falou de Deus, das canções que ela canta para Deus e do quanto ela é agradecida porque tem um emprego e um filho que ela ama, adora, e que agora já não pede mais nada para Deus, apenas agradece e que ela ama, esta conversa que ela tem com Deus todos os dias, o dia todo e que Deus tem sido muito amigo dela.
E ela me disse: sabe, quando você quiser muito um milagre faz o seguinte: combina com Deus que vai ficar 40 dias sem a coisa que você mais gosta. Oferece a Ele este sacrifício e vai ver como Ele reconhece o seu esforço.
Quando ela tirou o último tubinho de sangue, pulei para o colo dela e a abracei com muita força e saí para ir embora para casa.
Agradecida por ter tido a resposta que procurava, decidi que a partir de amanhã vou ficar 40 dias sem comer pão. Vou oferecer este imenso sacrifício (é a coisa que mais gosto de comer nessa vida!) para que exista diálogo entre os seres humanos, que caiam os véus da cegueira, da maldade, da ignorância, do egoísmo, do desrespeito, do desamor e que as pessoas se encontrem na união e no maravilhoso e curador poder do verdadeiro sentido do diálogo!
Obrigada anjo negro, cor do ébano, cor do amor!
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