Estilos de vida: primatas modernos ou mamíferos de luxo?
Estilos de vida: primatas modernos ou mamíferos de luxo?
por: Aline Schulz
O ser humano busca equilíbrio, paz, harmonia, saúde, felicidade, entre outros. Porém, se esquece que para alcançar isso, precisa viver de forma nivelada os quatro pilares que nos sustentam: espiritual, mental, emocional e físico. Todos batalham para manter essa equação a mais perfeita e distribuída possível, mas, nem sempre é o que conseguimos na prática do nosso dia a dia.
Um dos nossos maiores desafios é começarmos a perceber estes desequilíbrios, por vezes sorrateiros, outras vezes gritantes em nossa vida ou em nosso contexto, ao qual podemos observar. Vale lembrar, que muitas vezes fomos nós que naturalizamos ações, tornando-as necessidades em nossas vidas. Frente a isso, é preciso olhar atentamente tudo o que está a nossa volta para fazermos o caminho inverso, desnaturalizar atitudes, pensamentos e emoções que tantas e tantas vezes nos engessam. E com isso, nos impedem de seguir em frente em nossa caminhada evolutiva.
Somos como uma cadeira, nós possuímos quatro pilares que nos sustentam. Eles equilibrados nos fornecem o fogo necessário para o desabrochar da nossa senda em cada um deles, chegando assim, a nossa ascensão. Agora, verdadeiras atrocidades estão acontecendo em cada um deles. Percebemos que desequilíbrios sérios se apresentam nos quatro pilares. Buscas rápidas por soluções instantâneas ao qual gosto muito de denominar de fast food. E isso, fazendo alusão às respostas a pronta entrega sobre questões profundas existenciais pessoais e coletivas.
Em recente viagem, pude entrar em contado com um grupo de pessoas que aos meus olhos denominaria como peculiar. Que ao mesmo tempo em que me incitou a curiosidade, me deixou incomodada, desconfortável.
Mas, vamos por partes. O ser humano no século XXI se gaba das facilidades que conquistou. Vangloria-se das praticidades e modernidades da nossa era atual, com um poder de se inventar incrível, onde o moderno hoje se torna ultrapassado depois de amanhã. Perante isso, acredita ser impossível viver sem o conforto, o comodismo que isso nos traz.
Realmente, é quase impossível pararmos para pensar a nossa vida sem a água encanada, sem um banheiro, sem um chuveiro, sem a assistência até mesmo na hora de um parto. Porém, grupos alternativos assim o vivem. Buscando em sua realidade se auto-sustentar através daquilo que plantam, subsistindo pacificamente não querendo nada, não pensando em nada, somente um dia de cada vez.
Trata-se de comunidades alternativas, que muitas vezes se vinculam as lutas ecológicas, a sua maneira, experienciando todo um estilo de vida diferenciado. Fico me perguntando, meditando junto aos meus botões... Será que as motivações iniciais para eles estarem vivendo assim foi uma rebeldia ao sistema que nossa sociedade impõe sobre nós? Um grito de independência diante do regramento? Uma forma de ir contra as idéias do que seria o esperado para uma vida tida como normal?
Agora vamos mais além, algo mais remexia meu ser... Refletindo, percebi que o me inquietava era que o olhar era o mesmo dos desenhos e fotos dos homens primatas que via nos livros de história da escola. Confusa me perguntei: puxa, homens primatas modernos? Modernos, pois usam roupas, mas primatas no seu modo de viver, pois obtêm da mãe natureza a sua total sobrevivência? Afinal, se estes evoluíssem (em minha concepção pessoal, claro), percebi chocada que seriam assim!
O comportamento era desligado, passivo, tranquilo, com um despudor incrível a respeito do seu corpo, pois viver em grupo, em um mesmo local, convenhamos, não nos permite privacidade. O banho no rio, porém usando sabonete, uma incoerência diante da proposta de vida. Infelizmente, por tamanha liberdade, o que se percebia eram as necessidades sendo feitas ao ar livre, um desleixo, por vezes, completo diante da sua aparência e higiene. O nudismo presente entre as crianças, uma andar parecido, uma naturalidade evidente com o estilo de viver.
A sensação de presenciar uma linha atemporal, onde o atual entrecruzava com o momento presente era notório. Afinal, estar diante de pessoas que optaram por viver de forma tão alternativa não era algo tão corriqueiro.
Me pego refletindo se algum deles tem sonhos. Metas e desejos de crescer, de ir além, melhorar-se enquanto pessoa, seguir em frente nesta caminhada rumo a sua evolução pessoal e coletiva. Afinal, o olhar era de pura aceitação das condições em que viviam. Será que este tipo de vida não seria um gatilho para aflorar a personalidade congênita daqueles que precisam amenizar estas questões? Será que viver em meio as escassez, pois o que se percebia era uma limitação quanto a recursos financeiros, é um propósito de vida equilibrado?
Ok, viver alternativamente, mas manter a coerência de caso venha precisar de um auxílio, por exemplo, médico, possa usufruir dele tranquilamente. Dispor de condições que lhe permitam ser, sob esta ótica, um homem livre. Afinal, tudo aquilo que nos limita não nos aprisiona? Aí não tenho como não me questionar, quem é mais livre, uma pessoa como nós, que vive em meio às modernidades ou alguém que vive nestas condições?
Indo mais além, como ser próspero diante da limitação? O que de fato é um limite? O que é algo limitador para você, não necessariamente seja para mim. A subjetividade neste caso, emerge fortemente colocando-nos parâmetros diferentes. Agora, preceitos básicos de sobrevivência são fundamentais. Poder escolher a vida que queremos para nós baseados na consciência e não na rebeldia torna-se uma premissa que mais tarde mostra seu valor. Equilibrar as suas emoções e pensamentos em meio a um viver in natura, que muitas vezes não lhe permite usufruir da assistência primária as nossas necessidades é no mínimo questionável.
Admirável por um lado, pelo tamanho desapego diante das coisas mundanas. Porém, preocupante do ponto de vista da nítida sensação de não querer nada além daquilo. Da passividade diante do acontecer da vida, da não in
teração com o restante do mundo.
Uma comunidade de hippies, hippies que se intitulam de espiritualistas. Infelizmente, essa é a visão daqueles que não se detêm para analisar mais profundamente o que estão testemunhando. Os rótulos surgem inexoravelmente. A crítica, pré-conceitos, tabus emerge fortemente, nivelando também, o todo da classe espiritualizada. O descrédito vem como uma consequência natural. Afinal, para muitos é incompreensível como uma pessoa em sua sã consciência possa optar por viver daquele jeito. Muitas vezes tido como bicho do mato, ou chamado por alguns como, ?bicho grilo?.
A questão toda está centrada no radicalismo. Em viver no nada ou no tudo. A pergunta que fica é: Como podemos ser e estar em equilíbrio conosco, com as pessoas, com o mundo ao nosso redor se não conseguimos coexistir aliando modernidade com sabedoria?
E quanto a nós? Será que nos tornamos mamíferos de luxo? Não conseguindo suportar a idéia de não viver sem nossos confortos? Será que nos acomodamos ao inverso? Será que possuímos equilíbrio em nosso estilo de vida também? Ou não suportamos os sons da mãe natureza, nos tornando urbanos demais, a tal ponto de preferir o ar da cidade ao invés da mata, de sequer conhecer a origem de um ovo!
Estilos de vida... Cada um ao seu modo. Muitas vezes acreditando que o seu é o melhor do que do seu vizinho. Em meio a isso tudo, o discernimento se faz necessário, para que cada um possa evoluir dentro do seu contexto pessoal. Observando o porque de estar inserido neste ou naquele ambiente, com estas pessoas, atraindo situações que aflorem estes aprendizados.
Independente do estilo de vida que escolhemos para nós é necessário aprender a filtrar o que é bom para nós, pois o que é para nós, não é para o outro. Sua verdade não é a minha verdade, e vice-versa. Unir ciência com espiritualidade, com doses generosas de discernimento é fundamental para estar alinhado a sua caminhada pessoal evolutiva no aqui e agora. Nosso estilo de viver se encontra neste contexto e ele tem muito a dizer sobre quem somos e o que estamos fazendo aqui neste planeta escola chamado Terra.
Comentários