Os Filmes Solares e Nossas Vidas
por:Domício Martins Brasiliense
Escondendo-nos, assim é que andamos. Dentro dos carros, cada vez mais escuros, estão pessoas amedrontadas com os perigos da vida. Fugindo dos outros que estão do lado de fora, ocultamos um mundo particular envolto na música que escolhemos, pensamentos que temos e ligações pelo celular; ocultos num mundo quase que imaginário, acreditando estarmos protegidos dos perigos externos.
Enquanto andarilhos, óculos de proteção solar nos distanciam das coisas que não desejamos ver e nos aproximam das que desejamos e não queremos que saibam; vemos o que queremos e ignoramos o que tememos.
Por um lado, estamos protegidos dos raios UV, por outro nos escondemos das pessoas e do mundo. Afinal, o movimento é externo ou interno? Nosso planeta não está bem de saúde, mas não é justamente por nossa causa que ele adoeceu? Então, estamos nos protegendo dentro dos carros e por trás de óculos escuros daquilo que nós mesmos provocamos? Se sim, estamos que nem uma criança pequena quando tapa os olhos com as mãos e acredita estar escondida de todos. Se não, o que está dentro do carro ou por trás das lentes? Pense...
Onde tudo isso vai parar? O que é real, o mundo além dos filmes solares e das lentes ou o que criamos? Ou tudo é o mesmo mundo real?
Proteção: esta é a lei maior! Procuramos nos assegurar de tudo que nos proteja do mal externo. Irônico, não? Quase sempre nós somos nosso maior mal. Se factual tal pensamento, estamos nos protegendo dos perigos externos, mas nos aproximando do pior deles que somos nós mesmos? Sem dúvida alguma, se nos aprisionamos nas nossas vitimizações, mazelas, tristezas, verdades absolutas, pré-conceitos, preconceitos, sentimentos de raiva, rancor, egoísmo, prepotência, etc.
Então, qual a verdade, a de fora ou a de dentro? Quando estamos dentro o que está, realmente, acontecendo lá fora? E, quando estamos fora, o que está acontecendo dentro?
Pessoal: como nós estamos?
Carentes! Muito carentes uns dos outros! Nessa prisão a que nos acostumamos, ficamos sozinhos. Protegemos-nos dos males externos, mas exageramos na dose. O medo nos isolou e, desacreditando em tudo tentamos nos acostumar com a solidão. Alimentamos nossa fortaleza com nossas crenças, nossas verdades, nossos princípios, nossos problemas... Tudo centrado no que o eu de cada um acha certo e, com isso, perdemos nossa habilidade de conviver, de socializar-nos.
É, vamos precisar de muita película solar, com níveis cada vez mais altos de proteção; o melhor é não enxergar...
Mas, será que perdemos a habilidade de nos vermos? De repente, com algum esforço, talvez consigamos voltar a olhar-nos; olho no olho. Aí pode ser que descubramos que nosso irmão está tão sozinho quanto nós.
Vamos tirar a película protetora do nosso coração? Queremos visibilidade! Que tanta proteção? Que tanto medo? Que tanto?
Chega!
Domício Martins Brasiliense - Psicoterapeuta
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