"A mais profunda intrusão humana na crosta terrestre"
Sputnik News
Ambicioso projeto científico entrou no Livro dos Recordes Guinness como sendo "a mais profunda intrusão humana na crosta terrestre" – 12.262 metros.
Confira o que foi alcançado por cientistas soviéticos
Há exatos 50 anos, um poço superprofundo começou a ser perfurado na península de Kola com o objetivo de se chegar até a fronteira da crosta e do manto terrestre.
Em nome da ciência
No início da década de 1960, a URSS criou um sistema de 14 poços superprofundos. O da península de Kola foi o terceiro, por isso foi-lhe atribuído o código SG-3, sendo, contudo, perfurado não para exploração ou produção de minerais, mas para fins puramente científicos.
O ex-ministro de Geologia da URSS, Yevgeny Kozlovsky – que supervisionou pessoalmente o projeto – afirmou à Sputnik que rochas de três bilhões de anos cobriam a península de Kola e que geólogos supuseram que a uma profundidade de 10 a 15 quilômetros, atingiriam o manto terrestre.
Projeto de complexidade especial
Durante os primeiros quatro anos, até a profundidade de 7.263 metros, a perfuração era realizada com unidades de série Uralmash-4E, utilizadas para a produção de petróleo e gás.
No entanto, seriam necessários equipamentos especiais, que não existiam no mundo e a liderança soviética deu instruções para prescindir da assistência estrangeira, se possível, de molde a salvaguardar o secretismo.
Yevgeny Kozlovsky, que na época presidia o conselho científico do projeto, relembra o "desenvolvimento de raiz da perfuradora Uralmash-15000 - projetada para uma profundidade de 15 mil metros". Segundo ele, "tecnicamente foi uma inovação absoluta".
No verão de 1984, Moscou sediou o Congresso Geológico Internacional, do qual Yevgeny Kozlovsky foi presidente.
Da tribuna do congresso, anunciou ao mundo o sucesso do poço superprofundo de Kola – 12.066 metros atingidos, criando um furor científico. Os delegados do congresso foram então levados para a península de Kola, a fim de verificarem o sucesso. A URSS, que competia com os EUA para chegar ao manto da Terra, estava muito à frente.
A marca fatal
Em setembro de 1984, a perfuração, contudo, conheceria um contratempo que levou a reiniciar a operação a partir dos 7.000 metros.
Somente em 1990 foi possível chegar a 12 quilômetros novamente, atingindo-se então os 12.262 metros.
Novo problema com a perfuração levou em 1992 ao corte de financiamento e consequente cancelamento do projeto.
De novo granito em vez de basalto
As dificuldades encontradas a partir dos sete mil metros tiveram a ver com o fato de, ao contrário do esperado pelos geólogos e geofísicos, o granito não deu lugar ao basalto.
Assim, ao invés de basalto, havia granito, mas com muitas fissuras e baixa densidade. E quando rochas duras se intercalam com rochas macias, a perfuradora para de avançar verticalmente, tendendo em direção a rochas macias.
Além disso, os cientistas encontraram água nessas rachaduras e poros. E não foi a única surpresa.
O calor da Terra
As profundezas acabaram sendo muito mais quentes do que eles pensavam. Aos sete quilômetros, a temperatura era de 120 ºC, e aos 12.000 metros já atingia 230 ºC.
"Sob tais condições, os dispositivos não poderiam funcionar corretamente", disse Kozlovsky. "Por isso precisávamos de refrigeradores especiais, que eram baixados dentro dos tubos para esfriar o espaço do fundo do poço."
Não foi em vão
Segundo Kozlovsky, a perfuração foi "uma abordagem fundamentalmente nova para o estudo da estrutura profunda de regiões inteiras, baseada no uso conjunto de dados de perfuração profunda, sondagem sísmica e outros métodos geofísicos e geoquímicos. Nos últimos anos, os cientistas avaliaram as perspectivas do subsolo em todo o país e identificaram potenciais áreas de minério, petróleo e gás. Este é o resultado prático mais importante da perfuração na península de Kola".
Uma 2ª vida?
A vice-governadora da região de Murmansk, Olga Kuznetsova, informou que as autoridades da região estavam discutindo a possibilidade de transformar o poço em uma instalação turística.
Infelizmente, neste caso, só podemos falar sobre o lugar onde tudo aconteceu, pois não sobrou nada do próprio poço. Até mesmo tubos e brocas enferrujadas foram vendidos para o ferro-velho, há muito tempo.
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